Match point
Movimentam-se aos pares, quase sempre machos, e escolhem quase sempre a nossa vizinhança. Sem darmos por isso, o número de jogadores pode até vir a aumentar assustadoramente e com ele a probabilidade de alguma bola nos acertar na tola. Correm, agacham-se, vociferam ou urram de contentamento, do grande feito, de uma grande jogada e nós ali tão perto. Sem querer, mais por medo do que por admiração ou desdém, acabamos por seguir o bater da bola no vai-vem das raquetes, toc, toc agora mesmo aos nossos pés, a curta distância dos corpos vulneráveis no areal.
Não se cansam nem largam a bola, mais ou menos preparados, mais ou menos atléticos, correm como podem e com eles o nosso olhar; toc, toc, bate a bola, mais um gritinho, pois sim mas já chega, antes que. Esforço físico, dizem eles; se a bola me acertar já não a levam, dizemos nós, tantas vezes perante um patético desempenho desportivo ou um barrigudo sem graça.
O alheamento é praticamente impossível, a maré está alta, o areal curto, mas continuam, batem e correm, ou não batem mas correm na mesma, um, dois ou três pares. Não é ilegal, dizem eles; nem na praia nos larga o velho jacobinismo.
Mais uma corrida, nova batida, desta vez falhada para eles, dorida para outros: match point limpinho rente à orelha. Tudo legal.
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