domingo, julho 31

Meia idade

Já tinha ouvido aquelas musiquetas, mas nunca liguei muito às letras (?). Daquele género em particular conhecia um homem com concertina que cantava umas brejeirices, aliás muito do agrado de universitários, encantados pela sua prestação num dos concertos de fim de curso (abençoada vida académica dos anos anos 80 sem trajes de morcego nem praxes).
Durante os santos populares aqui na capital, percebi que eram um ex-libris do evento, aquelas musiquetas que saíam dos altifalantes e que animavam os bailaricos. São cançonetas medonhas, de rima fácil e boçalidade aos molhos, alhos, bugalhos a glosar parentescos, a vizinhança e a gastronomia, entre outras temáticas de nobre teor. Assim, embrulhadas pela música (sempre igual), soltavam-se louvores a primas, vizinhas, padarias e cozinhados variados, em refrão embalado pelas ancas.
Era assim, música atrás de música, pimba pr'aqui, rapaziada pr'acolá, uma javardice pegada a abrilhantar o bailarico, que me fez sentir velha: durante anos acreditei que a cançoneta "A saia da Carolina tem um lagarto pintado"era coisa brejeira, boa para excursões do liceu longe da censura paterna.  Afinal eramos uns anjinhos e nem as letras dos Rolling Stones nos tornavam menos meninos do coro.
Caramba que me sinto velha ao recordar os fatos de banho das grávidas com um género de avental a cobrir a barriga e pasmo perante "permanentes" de pestanas. Afinal é possível misturar alhos e bugalhos no mesmo post sem ajuda de sintetizador nem concertina.
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