Uma grande mulher
Recordo-me bem de quando ela começou a trabalhar. Com os filhos já criados, a quem ensinou diária e exigentemente a aritmética, ortografia, Geografia, História, o corpo humano e a fotosíntese, com o jardim cultivado e a vida encaminhada, surge-lhe a oportunidade de "começar a trabalhar". Creio que por essa altura os tempos ainda não eram difíceis para um emprego (o ensino), geralmente para o resto da vida.
Na família não havia tradição de as mulheres trabalharem. Depois dos estudos, em colégios mais ou menos longe de casa dos pais, vinha o casamento ou raramente um curso superior. Ia cada uma à sua vida.
Lembro-me bem de como os horários mudaram a vida da família, porém sem atribulações, correrias ou desleixos, que tudo era ao virar da esquina. Tudo acabaria por entrar nos eixos e parecendo que não, os filhos agradeciam aquelas horas de liberdade sem vigilância. E ela tinha um salário, férias pagas, um maior desafogo financeiro, geria o seu dinheiro, fazia as suas contas, as suas poupanças e era senhora dos seus projectos. Fez amigos novos e muitos conhecidos, conviveu noutros ambientes, alargou conhecimentos, lá tinha as suas ralações, mas também um carro novo. Trabalhou até a saúde lho permitir, em tempos novos sem altruísmo, nem amizade, uma época bem diferente daquele primeiro dia em que saiu para o liceu.
Poderia ser a história de tantas mulheres. Porém, neste caso, é um pouco da história de uma mulher cuja vida terminou cedo demais.
3 Comments:
Brava, boa, linda e inteligente e trabalhadora. Mãos de fada e fada do lar. Todos os dias penso que não lhe chego aos calcanhares.
T
Miss Pearls
Não sei do que mais gostei, se do seu post, se do último parágrafo do comentário de T.
TeB
Estimada Vizinha,
A minha Mãe também foi assim, felizmente ainda é viva.
Próximo sábado tenho um jantar de aniversario nas suas imediações próximas.
Respeitosos cumprimentos a todos,
Enviar um comentário
<< Home