Um pouco de apocalise
Duas boas surpresas: o filme "Estado de Guerra" (que devia limpar o Óscar do melhor filme sem qualquer hesitação) e os chocolatinhos Fantasie da Nestlé, cujos despojos encarnados jazem no cinzeiro.
Em Estado de Guerra, entramos no fato de protecção dos militares, ouvimos-lhes a respiração ofegante, sentimos a tensão no gatilho e, com a câmara errática, vemos o suor do medo na paisagem a sépia e destroçada do Iraque. Somos como um dos membros da equipa anti-minas, sentimos-lhes os nervos e o pó do deserto na mira da metrelhadora; a lente leva-nos às varandas, aos telhados e aos topos dos minaretes à procura de um sniper ou de um movimento suspeito que deite tudo pelos ares, mesmos as crianças que brincam nas escadas. Procuramos com os dedos os fios certos da mina, tacteamos o chão por mais cabos e mais armadilhas (good job), enquanto o gato vadio passa ao nosso lado coxeando com uma perna só. Contamos-lhes os dias para o regresso a casa e vemos as caixas dos que ali ficaram, atraiçoados pelo engenho de outros homens. O miúdo espertalhão dos dvds piratas ganha a vida como pode, três pelo preço de um, no único traço humano que ultrapassa o dever de zelo do trabalho em equipa. Um grande filme.
Imshee! Imshee! Apetece-me dizer aos groupies idiotas indiferentes ao filme, escolhido porventura por sugestão do título: estado de guerra igual a porrada, bombas, tiros, sangue e corpos esfacelados. Alheios à tensão que se passa no écran, mastigam pipocas como se não houvesse amanhãs enquanto o soldado avança para o homem-bomba, sorvem ruidosamente as bebidas quando um taxista confronta os soldados e consultam os telemóveis perante a imagem única do corpo armadilhado de uma criança morta. Os que não chafurdam nas pipocas estão na marmelada, no quente e no escuro, duas cabeças coladas, por vezes uma só, idiotas, nâo vêem sequer os escassos minutos em que surge o Ralph Fiennes bronzeado e de barba, no papel de mercenário britânico que não sobrevive a uma emboscada. Lá pelo meio, tiveram o seu momento Rambo, hélas breve: satisfeitos com a cena do estafado gesto do dedo de fora exibido pelo temerário Sgt. James, exultam de alegria e soltam gargalhadas. Ganharam a tarde. Imshee! Imshee!
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3 Comments:
'Get lost', tanto qto me lembro. Foi-me mto útil em vários países árabes.
Sim: go away.
É fundamental conhecer essa expressão:)
bjs
Vi o filme há já alguns meses. Um bom filme, sem mais,interessante, mas nada mais do que isso. Acontece que em cada ano os meus filmes favoritos pouco ou nada têm a ver c/ os Oscares. De Bigelow prefiro "Strange Days", um filme de culto. Quanto a "Avatar", como os meus filhos já são adultos e nenhum dos meus 4 netos já tem idade para tal coisa, fugirei dele enquanto puder.
Um abraço, Isabel, e obrigado por pelos 3-0. Deram um jeitão!
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