Aspiradores, facas, pesos e alteres

Nada como uma noite de insónia para tomarmos conhecimento do mundo delirante dos milagres televisivos. Confesso-me fascinada e rendida às diabólicas máquinas que nos transformam o corpo só com dez minutos de exercício diário, e com os aspiradores ultra-sónicos capazes de liquidar todas as poeiras cósmicas do universo. Aliás, naqueles equipamentos domésticos (pagos a suaves prestações) ninguém transpira ou tem ar esgazeado, outro milagre. Depois de ouvir os convincentes testemunhos do sr. smith e da sra. wallace, a primeira reacção de qualquer espectador estremunhado é resistir à tentação de encomendar as máquinas milagreiras e beber um copo de leite à espera do sono. Certo é que de manhã estará tudo esquecido, à excepção das olheiras. Mas a coisa mais maravilhosa é uma cinta elástica que aperta, amassa e tritura todo o qualquer tipo de protuberância corporal. Não emagrece, não oxigena o sangue, só encolhe. Fica tudo espalmadinho: o estômago, a barriga, as ancas e as pernas. Mas ó milagre dos milagres: uma costura anatómica na parte de trás deste corpete gigante, próprio da Inquisição nos seus melhores dias, modela o rabo, tornando-o firme e insinuante. Eu vi com os meus olhinhos que a terra há-de tragar, o antes e o depois: a dona Clarinda com umas calças 46 (sem cinta), e a dona Clarinda de cinturinha de vespa 42 (com a cinta), com uma silhueta de fazer inveja a qualquer colega de escritório. Antes de deitar para o lixo o saco de ginástica, vou dar uma vista de olhos aos sites destas mezinhas anatómicas. A ser verdade, converto-me já.