quarta-feira, março 24

Mulheres

Já não consigo escrever nem ler sem óculos. Há dias, perdi-os algures e senti-me perdida sem eles. Enquanto aguardava por novo exemplar (a preços milionários), pedia emprestados quaisquer uns, mas resisti aos chineses onde se vendem a três euros, feitos de um qualquer vidro de aumentar. Assim, aqui estou de novo, eu e o blogger, bem focado e sem riscos.

Já lhe disse que ia escrever sobre a amizade, de como gostamos de falar do que nos alegra e do que nos apoquenta, das nossas fragilidades e de onde vamos retirando as nossas forças. Se encontrar duas mulheres aos Sábados, no sobe e desce do Chiado, podemos ser nós. Cheias de boas intenções, apalavramos a viagem de metro, mas na hora da verdade, foge-nos o pé e as mãos para as portas do carro e, sortudas, temos sempre um parquímetro à nossa espera numa das ruas nobres da zona. Bem sei que isto não passará de um mera banalidade, mas são momentos gratificantes na vida de duas mulheres, voluntariamente dispostas a serem mal atendidas numa das clássicas pastelarias da zona, felizes por calcorrear a calçada sem outras aspirações que não sejam montras, música, e conversa, muita conversa que não acaba nunca. É verdade que a felicidade não é nenhum direito ou dever, mas na nossas histórias acaba sempre por existir alguma ficção (nunca uma fixação) que levamos a sério. A nossa sorte é que inventamos muitas novelas e assim teremos sempre muitos chiados à nossa frente para calcorrear.

Somos perfeitas a viver a vida dos outros. Na nossa, somos um bocadinho parvas, mas quando toca à vida de terceiros, somos mesmo boas. No final de contas, a culpa não é de todo nossa. Foi-nos dada a vida errada; nas outras é que éramos fantásticas. Estamos na história trocada e, com outro plot, seríamos maravilhosas. Esta reincarnação não é a nossa praia. A chatice é que não podemos mudar de canal e, assim sendo, cá vamos nós de mãos a abanar ou com algum pequeno saco, pobretes mas alegretes. É vê-las Sábado à tarde, cheias de certezas que se desfazem ao virar da esquina, de promessas que se quebram com a mesma facilidade com que se fazem, em nome de pequenos nomes que fazem as nossas vidas. É assim que tem que ser até ao momento em que deixa de ser. Uma grande vida, é o que te desejo minha amiga. Para ti e para os pequenos nomes que te acompanham mesmo quando não estão.

Este Sábado às quinze e trinta? Um croissant e um sumo?

2 Comments:

Blogger Cool Mum said...

Se pudesse também ia. :-)
Beijos
Alex

11:07 da manhã  
Blogger M Isabel G said...

Bem sei, Alex:)
E olha que quando vais , nos diviertimos a valer:)

12:34 da tarde  

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