No seu lugar
Num dos poemas mais fascinantes (se assim se pode dizer) da minha existência, Eliot descreve a essência e as fases da vida, em associação com lugares que define como "Houses live and die: there is a time for building And a time for living and for generation" (...), ou seja, "Home is where one starts from*".
Acredite o leitor que não sei como me fui lembrar de Eliot. Hoje arrependo-me de os meus conhecimentos de poesia não passarem de um lamentável mínimo bastante confrangedor, mas julgo que é para isso que servem os balanços da vida que surgem com a idade. E por aqui me fico quanto a confessionalismos, que nunca são boa companhia.
Creio ter recordado do poema por uma constatação, muito pouco poética (provavelmente errada) de que, na generalidade, cada vez se passa menos tempo em casa. Talvez por isso, mesmo que ainda existam telefones fixos, a tendência é para usarmos telemóveis onde as pessoas possam ser contactadas, seja numa esplanada, nos treinos dos miúdos, no teatro ou num restaurante, onde francamente não dá jeito nenhum estar com conversas.
No meu caso, honra seja feita a meia dúzia de pessoas que se encostam nos sofás que reconheço à distância, usam o velho aparelho, hábito antigo que não perderam nem querem vir a perder. Não é para dar recados nem avisos rápidos, é mesmo para falar, dizem. Ou melhor, dizemos uns aos outros, sem nos dispersarmos com quem passa e sem condicionamentos de voz ou linguagem. Eles estão lá com os seus objectos, os seus cheiros e os seus jeitos, e eu gosto de os imaginar assim. Por isso, agrada-me pensar que é outra forma de ver e ser visto. Sem sair de casa.
* EAST COKER (No. 2 of 'Four Quartets')-T.S. Eliot
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