Meninos do campo, meninos da cidade
“Memoriais de Beira de Estrada”- Valter Vinagre
Fauré Requiem Introit Barenboim
"Estão caras as flores este ano", queixava-se uma matrona a uma vendedora de rua a fazer pela vida. Mas sempre comprou um ramo dos mais baratos, para o cemitério, explicou. Uma maçada, digo eu, tentando ler-lhe o pensamento, porventura injustamente, logo a ela, pertencente a uma derradeira geração que (ainda) se importa com as campas dos familiares.
Mas também é possível que haja gente a queixar-se de que estão caras as flores, tanta despesa para uma simples homenagem a quem lhes deixou a horta, meia dúzia de oliveiras e que os ajudou, anos a fio, a pagar o empréstimo da casa com as poupanças da modesta reforma, os mal agradecidos.
Mas os meninos precisam de levar para a escola máscaras do halloween, disfarces de bruxa, fatos de esqueletos, camisas com caveiras, lindas ilustrações com gadanhas, fantasmas e gatos pretos. Deve ser para cima de um dinheirão, mas os meninos gostam. Divertem-se muito com uma ficção animada da morte que vem com os chupa-chupas. Um negócio recente que, em nome da alegria das criancinhas e do sossego dos pais, acabou por florescer.
Nada me move contra este folclore, mas lamento que se estejam a esquecer e a abandonar tradições profundamente enraízadas nos nossos meios rurais e que as novas gerações, muitas vezes afastadas das suas origens, já não as conheçam.
Vendo bem, o merchandising dos católicos é bem pobrezinho:singelas velas funerárias e um ramo de flores frescas ou secas as quais, no dizer da empregada da drogaria "duram um ano no cemitério". Fraco negócio. Flores horrendas.
Bem explicava o Padre António Vieira nas suas pregações que "é a festa mais universal e a festa mais particular, a festa mais de todos e a festa mais de cada um", no "Sermão de Todos os Santos". Julgo que esteja fora de moda, sem barrete de feiticeiro nem vassoura de bruxo.
Aos nossos mortos, àqueles a quem devemos mais do que a vida, "Dai-lhes Senhor o Eterno descanso, entre o Esplendor da Luz Perpétua".
4 Comments:
o seu comentário foi o único sobre este dia de Finados...(Se os mortos às vezes LÁ soubessem as saudades que nós temos!...)Tomaz de Figueiredo frase final de Uma Noite na Toca do Lobo)
Caro anónimo,
boa noite
Não percebi bem. Foi este o único post que leu na blogoesfera sobre o Dia de Finados?
E obrigada por relembrar Tomaz de Figueiredo.
Único,porque dos poucos o melhor.Desculpe a pressa da escrita.
Obrigada Dulce
e obrigada caro anónimo
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