domingo, novembro 1

Meninos do campo, meninos da cidade

“Memoriais de Beira de Estrada”- Valter Vinagre
Fauré Requiem Introit Barenboim
"Estão caras as flores este ano", queixava-se uma matrona a uma vendedora de rua a fazer pela vida. Mas sempre comprou um ramo dos mais baratos, para o cemitério, explicou. Uma maçada, digo eu, tentando ler-lhe o pensamento, porventura injustamente, logo a ela, pertencente a uma derradeira geração que (ainda) se importa com as campas dos familiares. Mas também é possível que haja gente a queixar-se de que estão caras as flores, tanta despesa para uma simples homenagem a quem lhes deixou a horta, meia dúzia de oliveiras e que os ajudou, anos a fio, a pagar o empréstimo da casa com as poupanças da modesta reforma, os mal agradecidos.
Mas os meninos precisam de levar para a escola máscaras do halloween, disfarces de bruxa, fatos de esqueletos, camisas com caveiras, lindas ilustrações com gadanhas, fantasmas e gatos pretos. Deve ser para cima de um dinheirão, mas os meninos gostam. Divertem-se muito com uma ficção animada da morte que vem com os chupa-chupas. Um negócio recente que, em nome da alegria das criancinhas e do sossego dos pais, acabou por florescer.
Nada me move contra este folclore, mas lamento que se estejam a esquecer e a abandonar tradições profundamente enraízadas nos nossos meios rurais e que as novas gerações, muitas vezes afastadas das suas origens, já não as conheçam.
Vendo bem, o merchandising dos católicos é bem pobrezinho:singelas velas funerárias e um ramo de flores frescas ou secas as quais, no dizer da empregada da drogaria "duram um ano no cemitério". Fraco negócio. Flores horrendas. Bem explicava o Padre António Vieira nas suas pregações que "é a festa mais universal e a festa mais particular, a festa mais de todos e a festa mais de cada um", no "Sermão de Todos os Santos". Julgo que esteja fora de moda, sem barrete de feiticeiro nem vassoura de bruxo. Aos nossos mortos, àqueles a quem devemos mais do que a vida, "Dai-lhes Senhor o Eterno descanso, entre o Esplendor da Luz Perpétua".

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

o seu comentário foi o único sobre este dia de Finados...(Se os mortos às vezes LÁ soubessem as saudades que nós temos!...)Tomaz de Figueiredo frase final de Uma Noite na Toca do Lobo)

8:51 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Caro anónimo,
boa noite
Não percebi bem. Foi este o único post que leu na blogoesfera sobre o Dia de Finados?
E obrigada por relembrar Tomaz de Figueiredo.

1:05 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Único,porque dos poucos o melhor.Desculpe a pressa da escrita.

11:33 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Obrigada Dulce
e obrigada caro anónimo

2:30 da tarde  

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