sexta-feira, agosto 7

O tempo e o medo

Seria difícil fazer uma adaptação de uma obra de Philip Roth pior que o filme "Culpa Humana" de Robert Benton e do qual não gostei nem um pouco. O mesmo não se pode dizer do filme Elegia*, com os fantásticos Ben Kingsley e Penelope Cruz, realizado por uma mulher, factor que não me parece despiciendo pela forma como as personagens são encaradas. Ao contrário do Everyman de Roth, um velho sedutor com a saúde em declínio, aqui é vez de um homem um pouco para lá da meia idade, professor meio reformado, às voltas com as suas aventuras amorosas, do medo do compromisso, do envolvimento e da intimidade cúmplice "Maybe, maybe.... your favourite words" , diz Consuela, a personagem cheia de juventude por quem ele acabaria por se apaixonar.
Até que vida dá uma das suas voltas mais penosas, quando a doença se agarra à mulher jovem sem a largar e o homem, que teme a chegada da velhice, vê chegar a morte onde só deveria existir futuro. Sempre complicado, mas é sempre Roth a copiar a realidade. A decadência da juventude percorre o filme nos personagens masculinas, mas não poupa a madura elegante que fala sobre a sua idade reflectida no olhar diferente dos homens, uma realidade sem volta a dar. Um filme que é mais do que a história de alguém que se rende ao amor.
*Adaptação da obra "The Dying Animal" de Philip Roth
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