sexta-feira, janeiro 30

A moda no frio

Basta andar pelas ruas de Lisboa para constatar que os jovens andam mal agasalhados. Bem sei que têm sangue na guelra, mas mesmo assim, que falta lhes faz um casaco quente que lhes resguarde os traseiros, as barrigas e o pescoço desabrigado.
O cachecol, companheiro de invernia, tem agora outra função que não a de agasalhar: fica giro no decote, de comprimento exagerado quanto inútil e de materiais sem a função de aquecer.
Claro que o frio por cá é para "amadores". Como escreveu o Francisco, "Quando eu era miúdo (bom, eu vivia no meio do frio) vestíamos de Inverno, de meia-estação (bem vistas as coisas, a estação «mais elegante») e de Verão. No Inverno, se havia frio, vestíamo-nos para o frio. Hoje, na verdade, algumas pessoas queixam-se do frio mas estão vestidinhas para um Outono morigerado, com brisas tépidas durante a tarde e sopro de Norte depois do crepúsculo". Vendo bem, não é fácil encontrar um bom casaco comprido ou um agasalho decente. Mesmo no pino do Inverno, os expositores dos grandes armazéns misturam um abrigo assim-assim com blusinhas ligeiras, casacos curtos e trapos giros. Tudo muito leve, subido e raras vezes com qualidade, porque essa paga-se muito cara, é um facto. Veêm-se uns gorros e luvas de dedos à mostra, mas não passam de adereços decorativos.
Há uns tempo tentei comprar uma "canadiana", daquelas que sempre usei na minha terra com frio verdadeiro, um verdadeiro mistério para as jovens vendedoras que por pouco não me sugeriram uma casa de produtos ortopédicos.
Recordo com saudade a minha mãe sempre a tricotar e a enorme colecção de agulhas que tinha arrumadas aos pares numa coisa de que não recordo o nome, que se enrolava e fechava com um laço. Eu era praticamente uma inútil: ainda hoje guardo a única camisola de lã que tive a iniciativa de começar e que tiveram que terminar por mim para que a pudesse vestir ainda durante o Inverno.
Mas aquilo tinha a sua ciência. A escolha das lãs era criteriosa, calculava-se o peso necessário (as empregadas sabiam tudo), escolhiam-se as cores (as famosas lãs metidas), sugeriam-se os números das agulhas, a qualidade do material e o preço que se podia pagar.
Havia ainda quem gostasse de camisolas feitas à máquina, que já devem entretanto ter desaparecido do mercado ou os conjuntos da Sidney ou da Tiffany para os mais abastados. Também se encontravam marcas nacionais, se bem com modelos bastante desajeitados, mas a oferta era pouca. Claro que nada daquilo era particularmente bonito ou elegante, mas serviam para aquecer e duravam muito tempo, era para isso que eram feitos.
Recordo-me das minhas golas altas com "torcidos", perfeitas, quentes, intemporais. A falta que me fazem aquelas mãos...

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caríssima vizinha,

A canadiana até está muito em voga, se for ao King verá que é assim...

O seu ultimo paragrafo lembrou-me o meu Pai, não pelo tricot, óbvio, mas pela saudade que deixou...

Bom fds,

10:55 da manhã  
Blogger Lina Arroja (GJ) said...

As camisolas e outros artigos feitos à máquina ainda se encontra e não precisa de procurar muito. Junto ao Chile, na António Pedro existe uma dessas lojas,julgo que de brasileiros.
Quanto às roupinhas para o frio, estamos com sorte por cá, porque em Londres as meninas vestem-se com blusinhas ou tops e pior andam com sapatos abertos e sem meias...
Há duas semanas com uma tremenda chuva aí estavam elas todas satisfeitas. Dizem-me que assim não têm de perder tempo nas entradas e saídas das discotecas...
Vá lá uma pessoa entender:)

2:23 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Deixe, os rapazes são a mesma coisa. Ainda hoje tenho a maior dificuldade em convencer os meus filhos de que mudar de estação significa trocar de guarda roupa (pelo menos parcialmente).
E não é inédito encontrá-los de t-shirt e jeans dentro de casa, em pleno inverno! Cá para mim, possuem um misteriorso sistema de bio-aquecimento central, igualzinho ao que eu suspeitava ter quando estava grávida...
Achei graça à recordação das coisas da Sideney (confesso que ainda guardo alguns twin-set religiosamente...)

6:38 da tarde  
Blogger Chloé said...

Sidney, obviamente

7:31 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Bom fim de semana caro vizinho

Grande joia,
Têm sangue quente, as teen inglesas :)
Não sabia que ainda havia uma casa que faz malhas na máquina. Mas olhe que devem ser muito poucas ...
Beijinhos


Chloe
Deve ser tudo igual :)

LR
Sidney ou Tiffany, que julgo era mais em conta..

8:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

(Acima era eu a auto-corrigir a gralha :):)
Miss Pearls: e já agora para completar o flashback...
- Sidney, Tiffany e Scottwool (mais uma, da Figueira da Foz, que foi à falência ainda na pré-crise :(

5:17 da tarde  

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