sexta-feira, novembro 21

A turma

A sala do Londres estava composta: metade dos espectadores seriam alunos e a outra metade, professores pela certa. No final, vários grupos discutiam entre si aspectos do filme e ouviam-se algumas situações que poderiam perfeitamente ter-se passado no écran.
Foi o que mais me chamou a atenção no filme "A Turma " ou seja, nada daquilo me parecia ficção. Os conflitos entre alunos, entre professores e alunos, a naturalidade e a verosimilhança dos diálogos, a indisciplina, a representação "entre murs" de um microcosmos numa sociedade multiétnica, a infinidade de reuniões entre professores com ou sem alunos, do director de turma com os pais, os telemóveis e os casquettes. Curiosamente, no meia daquela amálgama de nacionalidades, religiões, raças e até de clubes de futebol, encontrava-se um jovem (português?) com a nossa conhecida t-shirt da selecção nacional, encantado com os conhecimentos adquiridos sobre o processo de reprodução.
Poderia ter sido por outro motivo, mas uma série de mal entendidos criados pelas representantes dos alunos no conselho de turma despoletaram novos confrontos que deram origem a velhas soluções que a burocracia acabaria por "resolver".
Mesmo forçando a comparação, recordei a metáfora "spooks" do livro "The human stain" de Roth com a caracterização imprudente "d'une attitude de pétasses" e a forma como ambas desencadearam situações de rotura. Penso para mim que cada vez mais receio as palavras, ou melhor, a sinuosidade que adquirem.

1 Comments:

Blogger Joaquim Moedas Duarte said...

Olá!
Gostei do seu postal e tenho vontade de comentar.
Não por acaso, parte do filme ( que só ontem vi)é passado a tratar das palavras: o significado delas... o seu desconhecimento...

Hoje estive a postar sobre o filme. Tanta coisa para dizer, não é? No fundo, é sempre uma questão de comunicação.
Tal como se vê no conflito profes/ ME. Não falam a mesma linguagem porque, no contexto da mesma realidade, cada um tem uma visão própria e irredutível dela. Como é possível a comunicação?

Bem visto o paralelismo com o livro de Roth. Não sei porquê, tudo isto me transporta ao tempo das invasões bárbaras. "Eles" trazem outros modos de ver e viver o real, e não aceitam os nossos. Embora estejam ávidos do nosso bem-estar...
Inquietante!!!

1:56 da tarde  

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