terça-feira, julho 15

(...) Eis a vantagem das causas "fracturantes": basta apoiá-las, ou fingir apoiá-las, para se adquirir uma súbita virtude e um consenso com o espírito do tempo. Não importa a matéria das causas, mas a ilusão de superioridade "moral" que a respectiva defesa automaticamente concede.Ao dispensarem argumentação, as causas não diferem muito do futebol: um universo elementar, fundamentado em pólos extremados e "teses" cegas, que atrai a paixão e exclui a racionalidade. A diferença é que, ao contrário do futebol, cada causa possui um lado "certo", um partido que se "deve" tomar sob pena de se perder a desejada integração. E, para não confundir as cabecinhas, a "correcção" normalmente chega em pacote e assume-se em pacote: casamento gay (a favor), aborto (pró), alterações climáticas (uma ameaça), transgénicos (uma desgraça), touradas (contra), lacidade do Estado (óbvia, se o Estado não for islâmico ou budista), eutanásia (sim, sim, sim), etc. Adoptar posições divergentes é incorrer na ignorância e no fanatismo. Porquê? Não se sabe bem. De resto, seria típico de ignorantes e fanáticos tentar perceber. A tolerância do politicamente correcto tem limites estreitos" . Alberto Gonçalves - "Dias Contados"
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