domingo, março 2

A voz dos autores

"Esse Eça": texto de Fernando Madaíl no DN sobre o livro Eça de Queiroz – Fotobiografia: Viagem pela Vida e Obra de A. Campos Matos
"(...) O que nunca se conseguirá recuperar é o seu dom de conversador, pois, como garantia Alberto de Oliveira, "ouvi-lo era tão bom, era melhor ainda que lê-lo!" (...) "Ainda estou a ouvir-lhe a voz gutural e metálica", evocava Carlos Magalhães de Azevedo, "proclamando com tranquilidade um paradoxo estupefaciente, contando com inflexões garotas um caso da boémia ou da política, modulando uma reflexão profunda sobre um livro, um autor, uma doutrina". E Maria Amália Vaz de Carvalho, recordando o estado de saúde do já velho romancista de A Capital e de A Ilustre Casa de Ramires, que ia "morrendo aos bocadinhos", concluía que "era tal o encanto daquela palavra colorida, imprevista, cáustica sem maldade, pitoresca e vária, que os ouvintes, fascinados, não podiam mais lembrar-se de que era um homem doente que os estava deslumbrando assim". Entre diversas evocações, ainda a de Olavo Bilac: "Com o esguio corpo dançando dentro da vasta sobrecasaca inglesa, Eça, nas deliciosas noitadas de conversa íntima, (...) falava quase sempre, porque era um conversador inimitável (...)." O poeta brasileiro acrescentava: "E que conversador! Os seus gestos tinham a expressão das mais cálidas palavras: a mão escorçava, desenhava, coloria no ar o objecto, a pessoa, a paisagem que a frase descrevia. Cenas da morrinhenta vida das aldeias portuguesas, da Palestina, das Canárias, das grandes capitais da Europa iam passando, vivas e palpitantes, pela teia daquele animatógrafo surpreendente."(...)"

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Que bela junção, num mesmo texto dois grandes preferidos: Olavo Bilac e Eça de Queirós...
Carla Cristina

2:24 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker