terça-feira, fevereiro 19

As nossas coisas

Desconfio que há por aqui pouca gente que não tenha sabido de casos de inundações em casas de familiares, amigos e conhecidos, ou até tenha tido a pouca sorte de ser um dos afectados. Durante toda a manhã choveram (salvo seja) telefonemas com notícias de garagens com água pelos joelhos, caves com objectos a boiar, arrecadações escoadas com baldes, telhados danificados e um sem número de desgraças, muitas delas de difícil recuperação. Durante a noite, gente de sono pesado despertou com trovões colados à janela e crianças acordaram assustadas. E foi uma manhã cor de chumbo que descobriu uma cidade danificada pelos elementos e maltratada pela incúria dos homens. Foram horas de trabalho desperdiçadas a recuperar os destroços da água e da lama, brinquedos de crianças sem salvação, tapetes ensopados, livros esfarrapados, electrodomésticos sem reparação e tantas coisas que dificilmente voltarão a ser as mesmas. Na rua, a família de chineses fez o que pôde com vassouras e baldes na loja inundada acabada de abrir, estão carros meio submersos dentro e fora dos prédios e a televisão vai dando imagens assustadoras de ruas, túneis, estradas, estabelecimentos comercias e habitações onde a força da água entrou irracionalmente, onde quis, como quis, sem obstáculos nem barreiras.
Desta vez a televisão mostra também a nossa realidade e a nossa desolação ao vivo e a cores. Nada disto se passava em países distantes onde os elementos parecem andar sempre loucos, em locais que não reconhecemos, com imagens que não nos tiram o sono nem a vontade de jantar. Desta vez foi o nosso sono interrompido, as nossas casas inundadas, as nossas coisas estragadas e nada ainda voltou à normalidade. Fazem-se contas à vida, aos prejuízos e adivinha-se a maçada que está para vir.
Desta vez, a expressão "ocorrência" bateu-nos à porta, ou melhor, entrou pelas portas dentro.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A natureza segue o seu rumo. A minha cidade, Setúbal, alagou. Por baixo da cidade há imensos ribeiros apertados em manilhas estreitas. Quando a água é muita tem de sair por algum lado. A natureza vence sempre.
jinhos
Dinha

9:44 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

FOi um horror em Setúbal de facto Dinha

11:27 da tarde  

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