Billie Holiday-My Man

"Os cavalheiros tiram o paletó. Mas, na verdade Nelson se gruda no detalhe da alça do soutien que escorrega pelo braço. O cavalheiro aceita a água que lhe é trazida pela cunhada, e agradece:"Água linda. Fresquinha". Óbvio ululante que o sujeito está paquerando a moça! O desejo tilinta nessa cena, não estão vendo, não?

Nelson vai bramindo: "Detalhes, eu quero detalhes"!, quando os colegas chegam da rua e começam a contar de uma sujeita, casada, em "ótima forma", com quem se encontram nas tardes de calor de Copacabana. Me dá detalhes, carambolas! E depois, eles apareciam todos, um por um, nas páginas devoradas pela nação. Todo o mundo, to-do as lia.

(....) O que estava debaixo da alça do soutien era a nudez. "No tempo em que a nudez tinha mistério, tinha suspense, era um dos mais altos bens da mulher. Mesmo a mulher mais destituída de encantos tinha essa nudez latente debaixo do seu vestido. E isso era fascinante. Uma pobre-diabo vestida era salva, não pelo gongo, mas por uma possibilidade de nudez". Sacou?"

Excertos do texto "Sexo de Nelson Rodrigues" de Anabela Mota Ribeiro para a revista Egoísta de Setembro último. Mais um excelento número, desta vez com capas de renda em veludo vermelho e com um texto de Vasco Graça Moura "Meu Prezado Confrade [uma carta de Camilo a Eça?]" ilustado por Rodrigo Saias.