"O inferno são os outros "
(...)É pelas sete que os vizinhos do lado continuam a sinfonia inacabada. Confesso que não são tão pontuais como os vizinhos de cima. Às vezes, com indisfarçável preguiça, acordam às sete e dez, sete e quinze; depois acordam as crianças, dois anjos que começam imediatamente a destruir a casa e as minhas últimas réstias de sanidade. Das sete e vinte às oito e pouco, os pais tomam banho; os filhos já tomaram na noite anterior e aproveitam a ausência dos pais para deitar fogo à casa.
(...)
Pena que a banheira nem sempre resulte: aos fins-de-semana, por exemplo, os meus vizinhos aproveitam as manhãs livres para fazerem o que Adão e Eva começaram depois do episódio da maçã. O meu banheiro, não perguntem por que, amplifica as intimidades.
Os de cima são silenciosos e rápidos. Em dez minutos, e como diria Glauber Rocha, é a terra a transar. Das onze às onze e dez, existe uma cama e existe o triste ranger da cama.(...)Mas estranho são os vizinhos do lado. Com duas crianças, eles conseguem repetir a dose e a senhora leva o prêmio Meg Ryan da Semana. (...)
João Pereira Coutinho - "O inferno são os outros"
4 Comments:
não, o inferno são os maus isolamentos acústicos.
Não, o inferno é o urbanismo que temos. Tudo o resto decorre daí.
Têm razão... mas a vizinhança também não ajuda :)
;-) a crónica é demais, tb a divulguei Beijinhos
Enviar um comentário
<< Home