Vidas de Verão (6)
Estranhei aquele ajuntamente de rapazolas e de homens feitos junto aos escaparates de postais ilustados. Ignoradas, as tristes e descoloridas imagens de praias que já não existem, de melancólicas fotografias do pôr-do-sol tiradas ali de cima do miradouro, as habituais vistas aéreas, algum pormenor das ruas, dos ranchos folclóricos, fatos típicos ou tradições gastronómicas, ali estavam à vista de colecionadores de souvenirs ou a jeito para serem enviadas com "beijinhos, saudades e até breve".
Disfarcei um oportuno interesse numa qualquer revista e assim que aquele grupo barulhento debandou não resisti. Qual a razão de tanto entusiamo dos maduros, o que faria vibrar tão ruidosamente as hormonas daqueles corpos que não param de crescer?
Afinal a internet, o mundo virtual, a troca de videos, de imagens e toda a tecnologia não são assim tão estimulantes: nada como uma dúzia de postais large size com meninas em bikinis small size de corpos ao léu estendidos não sei bem onde, para motivar tamanha excitação. Podiam ser imagens do Algarve ou de qualquer praia do sul de Espanha. Ainda tentei vislumbrar algum pormenor característico como o rochedo da Praia da Rocha ou uma traineira chamada "Deus nos guarde", mas nada. A verdade é que as meninas amavam Portugal em inglês, com três singelas palavras redondas e bronzeadas que saíam das ondas. Não se lhes viam as caras porque o fotógrafo não estava para aí virado. Outras, mais viajadas, para além do “I love Portugal” tinham (só) uns selos a servir de adereços. Não pude deixar de ficar enternecida com estas nossas amorosas compatriotas que divulgam o melhor do nosso turismo além-mar. Mais abaixo, um grupo de três dedicados rapazes de forma minimalista exibiam o seu amor à pátria no areal pintados com a cor da bandeira. De novo o recurso ao mar, às epopeias marítimas, à longa tradição turística nacional que se estende pelos areais, pelas toalhas de praia e que atravessa fronteiras com três letrinhas apenas :"I love Portugal".
Entretanto o céu continuava cinzento e as nuvens não auguravam nada de bom. Decididamente, aquelas fotografias estavam no local errado.
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