sexta-feira, julho 13

Fim de tarde

Toda a gente dizia como era parecida com a mãe. Nos primeiros tempos, quando passava de relance numa montra ou num espelho, reconhecia-a naqueles traços. De início estranhava, depois passou a conviver com esse reflexo e quem a visse sorrir nunca poderia adivinhar porque encostava a mão esquerda à cara. Quando sentia um perfume que lhe era comum tentava ficar ali, quietinha, com a lembrança do carinho de um beijo. Curiosamente, o cheiro de algumas cozinhas fazia-a recordar ruídos, movimentos, palavras : "Quem põe a mesa? ". Ás vezes, quando se sente sozinha, lhe chega o desalento ou a saudade, como neste fim de tarde, olha secretamente para as mãos.
A voz e as mãos são, definitivamente, as características que mais registo em memória e que me fascinam. (...) Será que as mãos lhe despertam algumas emoções também transponíveis para post? Helena CM
Acho que sim, Helena. Um abraço.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Lindo.
De como a morte é imprecisa e de como os contornos e reflexos do corpo nos acompanham nas evocações que, constantemente, proporcionam.

8:22 da manhã  
Blogger Maria de Fátima Filipe said...

Gosto muito, tanto deste, como o post abaixo "Da Voz". Lindos.
:)

11:23 da manhã  
Blogger M Isabel G said...

Obrigada :)
Um abraço

11:56 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Isabel,

Muito, muito, muito bonito.

Helena CM

12:38 da tarde  
Blogger definitivo said...

É este género de textos que me lembram o drama de saber que a Miss Pearls AINDA não escreveu um livro...
Imperdoável (quase).

Abraço

Sousa

5:51 da tarde  

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