Fim de tarde
Toda a gente dizia como era parecida com a mãe. Nos primeiros tempos, quando passava de relance numa montra ou num espelho, reconhecia-a naqueles traços. De início estranhava, depois passou a conviver com esse reflexo e quem a visse sorrir nunca poderia adivinhar porque encostava a mão esquerda à cara. Quando sentia um perfume que lhe era comum tentava ficar ali, quietinha, com a lembrança do carinho de um beijo. Curiosamente, o cheiro de algumas cozinhas fazia-a recordar ruídos, movimentos, palavras : "Quem põe a mesa? ". Ás vezes, quando se sente sozinha, lhe chega o desalento ou a saudade, como neste fim de tarde, olha secretamente para as mãos.
A voz e as mãos são, definitivamente, as características que mais registo em memória e que me fascinam. (...) Será que as mãos lhe despertam algumas emoções também transponíveis para post? Helena CM
Acho que sim, Helena. Um abraço.
5 Comments:
Lindo.
De como a morte é imprecisa e de como os contornos e reflexos do corpo nos acompanham nas evocações que, constantemente, proporcionam.
Gosto muito, tanto deste, como o post abaixo "Da Voz". Lindos.
:)
Obrigada :)
Um abraço
Isabel,
Muito, muito, muito bonito.
Helena CM
É este género de textos que me lembram o drama de saber que a Miss Pearls AINDA não escreveu um livro...
Imperdoável (quase).
Abraço
Sousa
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