Da voz (II)
E depois há as outras vozes, as que ouvimos nos nossos sonhos, as que nos enfernizam os pesadelos e também as novas, amáveis ou não, que vão surgindo nas nossas vidas.
Muitas vezes percebemos-lhes os estados de alma ou as dores físicas, adivinhamos-lhes a angústia, condoemo-nos com a tristeza ou festejamos as alegrias. São as vozes do lado de lá do fio, com corpos que desconhecemos, que tratamos pelo nome, que gostaríamos de conhecer ou dos quais queremos distância.
Há as vozes do amor, da ternura, as vozes que deixámos de ouvir, os silêncios das cumplicidades, dos olhares que se trocam através do éter. Noutras alturas, pressentimos-lhes o fastio, a ansiedade, a arrogância e a hostilidade. São os momentos que fazem crescer o nervoso miudinho, o nosso, e o ímpeto controlado do clássico "com licença" sem a menor convicção de urbanidade.
E quantas vezes a voz se usa para combater a distância, a solidão, o desejo, o amor e a saudade.
O timbre, a intensidade, a altura e a inflexão são como os passos que ouvimos ao longe e lhes adivinhamos a presença.
Ao contrário das vozes do passado e que habitam connosco, para o bem e para o mal, vivemos com as do presente e com as outras que hão-de chegar, como podemos, com as nossas circunstâncias e com as dos outros.
Gosto de todas as que nos alegram o dia. Boa tarde.
6 Comments:
Sem demérito aos anteriores, mas com os posts "Da Voz" definitivamente brilhou.
Minha vénia.
Calou-me, Miss Pearls....
Posso não dizer mais nada - o que talvez me agradeça -, depois de lhe dar os parabéns por este post?...
Abraço.
Obrigada a ambos :)
(leio sempre com gosto todos os comentários :=)
A voz e as mãos são, definitivamente, as características que mais registo em memória e que me fascinam.
A Isabel fez dois excelentes posts sobre a primeira. Será que as mãos lhe despertam algumas emoções também transponíveis para post? ;-)
Beijinhos,
Helena CM
Gostei imenso. A sua escrita tem profundidade e toca-nos. Eu gosto sempre mais da escrita dos outros.
Olá amiga Helena,
Também as mãos sim, me trazem inúmeras memórias.
Acho que posso tentar.
Um beijinho e até breve
M Isabel
Obrigada Betty
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