Às 10 na Loja das Meias?
Num tempo em que o comércio estava na Baixa e as filhas se encontravam com as mães para fazer compras, havia dois locais "clássicos" para estes encontros: a Pastelaria Suiça ou a Loja das Meias, ou mais exactamente, na esquina com a Rua Augusta.
Era ali o local combinado, entre montras e transeuntes (agora chamam-se "peões") para um circuito de lojas, quase sempre as mesmas, muitas das quais já desaparecerem e outras, pelo que leio, vão desaparecer.
Uma delas é a Loja das Meias no Rossio, de mudança para outras paragens no estrangeiro, sinal dos tempos difíceis que vive o centro histórico da cidade, de segmentos de público desajustados ao local e da crise económica, como refere uma empregada que deixa a loja após 30 anos trabalho: "A maior parte das pessoas não tem dinheiro para comprar estes artigos".
Era o tempo em que ainda se comprava tecido a metro, lã ao quilo, em que as meias às bolinhas e outras modernices se compravam quase exclusivamente numa loja labiríntica e de paredes escuras e que agora nos faz sorrir. Sinais de outros tempos, bem diferentes dos interiores de aspecto depurado e minimalista das lojas de hoje, quer vendam sapatos ou louça. Aliás, a condizer com atendimento, cada vez mais em "part-time" e cada vez menos conhecedor.
Percorria-se a Rua Augusta, a Rua do Ouro e, com sorte, comprava-se algumas preciosidades na charcutaria da Rua Garrett. Foi assim durante a infância e assim continuou até me fazer mulher e até a morte os levar.
Já não ouço perguntar pelo "satin duchesse" mas quando me sento e peço um "esquimó" naquela pastelaria histórica, lembro-me com imensa saudade de que por ali também se fez a minha história.
12 Comments:
Embora seja de tempos anteriores à Miss, essa boa frequência esteve momentaneamente afastada quando um conhecido estabelecimento de comércios carnais abriu mesmo colado à mítica loja. Foi necessário proceder a uma intervenção polcial reconfortante para que as Senhoras voltassem a confiar no estabelecimento como ponto de encontro.
Beijinho
" quando um conhecido estabelecimento de comércios carnais abriu mesmo colado à mítica loja. "
Conte-nos tudo please :)
Quem faz tricot frequentemente ainda compra lã ao peso, quanto mais que não seja porque fica mais barato que ao novelo.
Não tendo vivido essa realidade,em concreto,vivi uma muito similar, quando a minha mãe me levava,a mim e às minhas irmãs,à cidade,para comprar esses tais tecidos a metro,que depois a modista transformava em vestidos que víamos nos figurinos ,sempre numa mesinha na sala onde recebia as clientes.
Essa casa de comércio há muito que desapareceu,não sei se para dar lugar a um banco ou a uma loja de roupa espanhola.
É como diz,isso faz parte da nossa história,e como é bom lembrar.
Olá Isabel,é pena que as casas de referência do comércio Lisboeta,estejam lentamente a morrer,para mal do próprio comércio e para as tradições seculares da baixa Pombalina,e em vez destas apareçam pontos de venda que pouco ou nada tem a ver com os costumes de quem consumiu naquela zona da cidade,bem sei, que nada é imutavel, e o comércio como o mundo está em transformação,mas quando a especulação imobiliária reina (é o caso) e quando os poderes públicos assistem a isto passivamente (CML) é sinal de que alguma coisa vai mal no "reino".
:)))Cumprimentos carissíma.
ERGELA
É verdade, em fins da Década de 1940 e princípios da de 1950 funcionou contiguamene à ilustre loja uma casa das tais, com créditos muito firmados no meio, que teve o efeito de assustar muitas Senhoras, quer pela companhia, quer, algo ingenuamente, por perigo de confusão. Depois, tudo voltou à normalidade.
Beijinho
E os saldos, Isabel? Os saldos em Agosto eram épicos! O mais parecido que alguma vez tivemos com os assaltos ao Harrods: aquilo era o mulherio todos a empurrar-se pelos negligeés da La Perla a 70%, eu arrastada pela minha mãe pelo meio da multidão, enfim, uma excitação. Tenho pena, também, pelo Pedro António, de quem gosto muito. É o fim de uma era.
Um beijinho grande e parabéns (atrasados, eu sei, sorry) pelo Expresso. Gostei muito! :)
Obrigada querida Sofia.
Isso dos saldos em Agosto era uma loucura. O mulherio praticamente entrava para dentro das montras. Era lindo ver tanta senhora quase a arrepelar-se à procura dos números certos (ou menos certos) da roupa.
Sim. É o fim de uma era. A empregadas eram as vezes umas empertigadas, mas tb isso fez a Loja das Meias.
E ali era tudo de boa qualidade. A Perla, a Tommy, a Burberry, etc. apareceram pela 1ª vez em Portugal na Loja das Meias.
Ergela
A Baixa aos Domingos mete dó, e depois das sete horas de Sábado fica praticamente vazia.
Caro Réprobo
Não sabia mas vou ler alguma coisa sobre o assunto.
Cumprimentos a ambos
A Loja das Meias já não é o que era, há muito tempo, pelo menos tanto quanto o que marca o começo dos armazéns de pronto-a-vestir de gama mais elevada, bem como as lojas de marca ... que habitualmente eram monopólio (ou quase) da LMeias.
No Rossio, concreta e paradoxalmente, tudo começou qdo resolveram dar cabo do projecto original da loja (Arq.Raul Lino), abrindo-lhe aquelas montras horrorosas e adulterando o interior, sem que ninguém fizesse oposição a isso ... estávamos no inicio da década de 90.
Depois vieram os saldos a torto e a direito, o cartão de crédito, e actualmente nem sequer sabem fazer camisas de homem. Espero que o que vier para ali seja melhor, mas mais um banco, não, por favor.
Bj
Olá Paulo
Sim, o interior estava muito descaracterizado. Mas o que mais me irritava eram as empregadas empertigadas. Dissuadiam qualquer um, independentemente do dinheiro que tinham no Banco.
Mais Bancos e casas de telemóveis, não, por favor.
Apanhei este post já bem completo de ideias.
Não queria deixar de manifestar que, mesmo sendo de outra geração, tenho largas memórias de ser criança e de passear na Baixa.
Da Loja das Meias e da Suiça.
E ainda da Pollux, que era a minha preferida, e que hoje é minha vizinha.
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