domingo, junho 24

Às 10 na Loja das Meias?

Num tempo em que o comércio estava na Baixa e as filhas se encontravam com as mães para fazer compras, havia dois locais "clássicos" para estes encontros: a Pastelaria Suiça ou a Loja das Meias, ou mais exactamente, na esquina com a Rua Augusta. Era ali o local combinado, entre montras e transeuntes (agora chamam-se "peões") para um circuito de lojas, quase sempre as mesmas, muitas das quais já desaparecerem e outras, pelo que leio, vão desaparecer. Uma delas é a Loja das Meias no Rossio, de mudança para outras paragens no estrangeiro, sinal dos tempos difíceis que vive o centro histórico da cidade, de segmentos de público desajustados ao local e da crise económica, como refere uma empregada que deixa a loja após 30 anos trabalho: "A maior parte das pessoas não tem dinheiro para comprar estes artigos".
Era o tempo em que ainda se comprava tecido a metro, lã ao quilo, em que as meias às bolinhas e outras modernices se compravam quase exclusivamente numa loja labiríntica e de paredes escuras e que agora nos faz sorrir. Sinais de outros tempos, bem diferentes dos interiores de aspecto depurado e minimalista das lojas de hoje, quer vendam sapatos ou louça. Aliás, a condizer com atendimento, cada vez mais em "part-time" e cada vez menos conhecedor. Percorria-se a Rua Augusta, a Rua do Ouro e, com sorte, comprava-se algumas preciosidades na charcutaria da Rua Garrett. Foi assim durante a infância e assim continuou até me fazer mulher e até a morte os levar. Já não ouço perguntar pelo "satin duchesse" mas quando me sento e peço um "esquimó" naquela pastelaria histórica, lembro-me com imensa saudade de que por ali também se fez a minha história.

12 Comments:

Blogger O Réprobo said...

Embora seja de tempos anteriores à Miss, essa boa frequência esteve momentaneamente afastada quando um conhecido estabelecimento de comércios carnais abriu mesmo colado à mítica loja. Foi necessário proceder a uma intervenção polcial reconfortante para que as Senhoras voltassem a confiar no estabelecimento como ponto de encontro.
Beijinho

11:34 da manhã  
Blogger M Isabel G said...

" quando um conhecido estabelecimento de comércios carnais abriu mesmo colado à mítica loja. "

Conte-nos tudo please :)

11:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Quem faz tricot frequentemente ainda compra lã ao peso, quanto mais que não seja porque fica mais barato que ao novelo.

1:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não tendo vivido essa realidade,em concreto,vivi uma muito similar, quando a minha mãe me levava,a mim e às minhas irmãs,à cidade,para comprar esses tais tecidos a metro,que depois a modista transformava em vestidos que víamos nos figurinos ,sempre numa mesinha na sala onde recebia as clientes.
Essa casa de comércio há muito que desapareceu,não sei se para dar lugar a um banco ou a uma loja de roupa espanhola.
É como diz,isso faz parte da nossa história,e como é bom lembrar.

1:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá Isabel,é pena que as casas de referência do comércio Lisboeta,estejam lentamente a morrer,para mal do próprio comércio e para as tradições seculares da baixa Pombalina,e em vez destas apareçam pontos de venda que pouco ou nada tem a ver com os costumes de quem consumiu naquela zona da cidade,bem sei, que nada é imutavel, e o comércio como o mundo está em transformação,mas quando a especulação imobiliária reina (é o caso) e quando os poderes públicos assistem a isto passivamente (CML) é sinal de que alguma coisa vai mal no "reino".

:)))Cumprimentos carissíma.


ERGELA

6:14 da tarde  
Blogger O Réprobo said...

É verdade, em fins da Década de 1940 e princípios da de 1950 funcionou contiguamene à ilustre loja uma casa das tais, com créditos muito firmados no meio, que teve o efeito de assustar muitas Senhoras, quer pela companhia, quer, algo ingenuamente, por perigo de confusão. Depois, tudo voltou à normalidade.
Beijinho

6:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E os saldos, Isabel? Os saldos em Agosto eram épicos! O mais parecido que alguma vez tivemos com os assaltos ao Harrods: aquilo era o mulherio todos a empurrar-se pelos negligeés da La Perla a 70%, eu arrastada pela minha mãe pelo meio da multidão, enfim, uma excitação. Tenho pena, também, pelo Pedro António, de quem gosto muito. É o fim de uma era.

Um beijinho grande e parabéns (atrasados, eu sei, sorry) pelo Expresso. Gostei muito! :)

7:40 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Obrigada querida Sofia.
Isso dos saldos em Agosto era uma loucura. O mulherio praticamente entrava para dentro das montras. Era lindo ver tanta senhora quase a arrepelar-se à procura dos números certos (ou menos certos) da roupa.
Sim. É o fim de uma era. A empregadas eram as vezes umas empertigadas, mas tb isso fez a Loja das Meias.
E ali era tudo de boa qualidade. A Perla, a Tommy, a Burberry, etc. apareceram pela 1ª vez em Portugal na Loja das Meias.

7:54 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Ergela
A Baixa aos Domingos mete dó, e depois das sete horas de Sábado fica praticamente vazia.


Caro Réprobo
Não sabia mas vou ler alguma coisa sobre o assunto.

Cumprimentos a ambos

7:57 da tarde  
Blogger Paulo Ferrero said...

A Loja das Meias já não é o que era, há muito tempo, pelo menos tanto quanto o que marca o começo dos armazéns de pronto-a-vestir de gama mais elevada, bem como as lojas de marca ... que habitualmente eram monopólio (ou quase) da LMeias.

No Rossio, concreta e paradoxalmente, tudo começou qdo resolveram dar cabo do projecto original da loja (Arq.Raul Lino), abrindo-lhe aquelas montras horrorosas e adulterando o interior, sem que ninguém fizesse oposição a isso ... estávamos no inicio da década de 90.

Depois vieram os saldos a torto e a direito, o cartão de crédito, e actualmente nem sequer sabem fazer camisas de homem. Espero que o que vier para ali seja melhor, mas mais um banco, não, por favor.

Bj

10:59 da manhã  
Blogger M Isabel G said...

Olá Paulo
Sim, o interior estava muito descaracterizado. Mas o que mais me irritava eram as empregadas empertigadas. Dissuadiam qualquer um, independentemente do dinheiro que tinham no Banco.

Mais Bancos e casas de telemóveis, não, por favor.

5:05 da tarde  
Blogger Luis Royal said...

Apanhei este post já bem completo de ideias.
Não queria deixar de manifestar que, mesmo sendo de outra geração, tenho largas memórias de ser criança e de passear na Baixa.
Da Loja das Meias e da Suiça.
E ainda da Pollux, que era a minha preferida, e que hoje é minha vizinha.

1:35 da tarde  

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