quarta-feira, abril 4

Ali ao lado

Não sei o que passa pela cabeça das pessoas para desatarem a falar em público de assuntos inconvenientes na língua materna, em qualquer país estrangeiro, como se ali ao lado não pudesse haver gente a compreendê-los. Principalmente em cidades e em locais onde com facilidade se encontra alguém que fale a nossa língua. Julgo que acreditam que estão sozinhos. Diz-me a experiência que raramente estão. Devem saber do que estou a falar no caso de já terem passado pelo mesmo. Pois este fim de semana, com turistas portugueses espalhados por todo o lado, nada mais fácil do que encontrar dúzias deles em armazéns, restaurantes, museus e nos transportes. A gente faz-se desentendida mas não pode deixar de escutar. Constrangedora a conversa de um casal que viajava comigo no comboio. Ele não a respeitava, nem a ela nem à família, o sexo não prestava e nem ali ele se mostrava mais carinhoso. Por sua vez, ele acusava-a de indiferença, as crianças em primeiro lugar está bem, e ele? Na impossibilidade de me tornar finlandesa, fingi-me uma francesa meia adormecida.
Numa esplanada, ouvi envergonhada graçolas brejeiras sobre as pessoas das mesas vizinhas e insultos torpes aos empregados. Nesse instante, com um thank you, transformei-me numa irlandesa apressada e saí. Já numa fila em que alguém barafustava que aquela gente não se mexia, xô xô, toca a andar, não resisti e chamei quem me acompanhava pelo nome. Um nome bem português, alto e a bom som. Perceberam e o que sussurraram já não ouvi. Para meter conversa já chegou o Sr. Rogério da recepção e o Sr. Lopes do restaurante, que a família estava no museu.

Galeries Lafayette e Place Saint-Michel

11 Comments:

Blogger JCA said...

Carissima Isabel, a falta de educação e de formação é um assunto recorrente não só dentro do país como fora.E assim avança este povo triste,malcriado,e reticente à inovação e a novas formas de ver o mundo e a civilização.(razão tem o António Barreto)
:)))))))

9:03 da manhã  
Blogger Maria de Fátima Filipe said...

Ai Miss Pearls, aquela conversa do casal não é só constrangedora como muito bem diz, é também confrangedora e deprimente. Infelizmente não abundam entre nós as boas maneiras e a educação que é também uns dos graves males dos nossos indigenas. Não admira que vão fazer cartases para casa alheia. É uma chatice não nos livrarmos deles nem em férias. É o mal da globalização, fazemos todos férias na mesma altura, viajamos para os mesmos sitios e fatalmente encontramos com mais facilidade estas feridas porque, ignorantes, eles se julgam "unicos" a viajar no meio do universo...

Bem, mas o resto correu bem e divertiu-se que é o que interessa, não é?

:)

10:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Cher voisine, mes respects,

O que é tambem confrangedor é a falta de educação no Aeroporto aonde embarcam mas quando aterram na Portela parecem carneirinhos.

A bientot e bonne pâque,

11:18 da manhã  
Blogger cristina ribeiro said...

Sei do que está a falar,Miss Pearls,porque já vivi um momento idêntico:há dois anos fui a Praga na altura do feriado de 25 de Abril,uma época que os portugueses aproveitam para fazer uma escapadelazinha.
Estava na fila da casa de banho,quando duas senhoras começaram a "cortar na casaca"duma amiga comum,até que uma delas achou por bem calar-se,mostrando receio de ser ouvida,ao que a outra reagiu dizendo que ninguém as entendia;eu,que estava à frente delas,comecei a chamar por uma "amiga"imaginária,para que elas soubessem que estava lá uma,pelo menos,portuguesa.Resultou.

2:02 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É verdade, infelizmente. Arriscaria a dizer que é a verdade inconveniente de Miss Pearls.

O tempo tem me ajudado a abstrair-me destes constrangimentos quando estou de férias. Dei-me conta que os portugueses são assim e ponto final.
Aquela nossa mania de fazer de conta que não é bem assim, que foi uma coisa de momento ...que os portugueses até são uns gajos porreiros quando estão de viagem e coisa e tal...É mentira, é vergonhoso!
A minha cabeça arranjou um botãozinho que se acciona de forma incosnciente e que faz o favor de me libertar destas situações, destas inconveniências.
Que canseira!

5:04 da tarde  
Blogger LeonorBarros said...

Como a compreendo... É constrangedor o comportamento de alguns portugueses em férias: a falta de educação e respeito pelos demais e outras culturas deixa-me envergonhada e irritada. Fujo de charters como diabo da cruz por causa disso. Infelizmente nem sempre é possível.

10:38 da tarde  
Blogger Maria de Fátima Filipe said...

ups.. catarses, evidentemente!. Nem sei como não apareceu por aqui nenhum anónimo a gozar com a coisa...
um beijinho Miss Pearls
:)

11:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É uma tristeza mas é mesmo assim! Então os palavrões que se dizem ao chamar os empregados dos cafés...
Faz-me impressão que com tanta excursão, tantos "pacotes de viajens" para todo o lado ainda haja portugueses que achem que estão sózinhos "lá fora". E isto sem pensar nos imigrantes espalhados por esse mundo fora.
Enfim... "tuguices"!

2:23 da manhã  
Blogger M Isabel G said...

Pelos vistos já todos/as viram estas grandiosas cenas dos nossos concidadãos.
O melhor é a gente fazer-se morta :) ou então irlandesa que também são morenos como nós.
Um abraço a todos/todas
ISabel

1:52 da manhã  
Blogger MCA said...

Infelizmente, a maioria de nós não percebe o que os estrangeiros (de língua não inglesa) dizem quando andam em férias. Se não, talvez perdessemos a mania de que os portugueses são todos umas bestas e os estrangeiros são todos bestiais...

1:09 da tarde  
Blogger Su said...

Concordo plenamente com MCA aqui em cima. É verdade que já ouvi conversas pouco próprias em português, mas a pior de todas veio de umas americanas que estavam atrás de mim numa fila de museu. É que quase toda a gente sabe inglês, mas eles só de lembram disso quando lhes convém.

9:37 da manhã  

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