terça-feira, julho 18

Crónicas de um país adormecido

"O panorama cultural era "paupérrimo", sobretudo na província, confirma o sociólogo. "Era uma vida em surdina, a vida cultural portuguesa." Em Vila Real, alguns (poucos) esperavam avidamente os jornais vindos da capital, O Século e o Diário de Notícias, que chegavam um dia depois. E os grandes acontecimentos - além do tradicional Baile dos bombeiros, oportunidade para os "magalas" conquistarem as criadas - eram os muito esporádicos espectáculos de música clássica. "No ginásio do liceu, com uma senhora a tocar piano, outra violino, vinham 30 ou 40 pessoas, o notário e o médico com os seus casacos brancos, se estávamos no Verão." .[António Barreto] Culturalmente, eram os tempos da juventude inquieta. Elvis Presley já abanava as ancas e encantava os adolescentes, Elia Kazan e Nicholas Ray filmavam James Dean - A Leste do Paraíso estava em exibição em Lisboa, no cinema Lys, na Avenida Almirante Reis, em Julho de 56. Mas "Portugal era um país diferente", resume Filomena Mónica em Crónicas da Vida Portuguesa, referindo-se ao início dos anos 60: "Quando, em King"s Road, as saias subiam, no Estoril as adolescentes eram obrigadas a usar fato de banho com longo saiote. [...] Quando, em Liverpool, os Beatles faziam andar à roda a cabeça das adolescentes, e Lisboa vibrava-se com António Calvário." Público de hoje, a propósito do aniversário dos 50 anos da Fundação Gulbenkian (18 de Julho 1956)

foto -blog Gatochy - Édouard Boubat, Portugal, 1956

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É preciso encarar com alguma distância as palavras da «estrangeirada» Filomena Mónica, que aprecio nalgumas coisas mas de que discordo totalmente noutras. Recordo-me dos anos 60 em Portugal e se havia coisa que se ouvia bastante, eram os Beatles, inclusive na RTP. Bem como muitos incipientes conjuntos de rock português, do Académico de João Paulo aos Gatos Negros e companhia. E também me lembro de nas praias da linha, e não só, as adolescentes andarem de fato de banho normal sem «saiotes». Quanto ao Calvário e companhia, será que a Filomena Mónica não se lembra dos seus equivalentes ingleses, franceses ou alemães? Ou só cá é que havia foleirices e pirosada?

3:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A MFM, que gostaria mtº de ter sido a versão portuguesa da Marianne Faithfull - que tb escreveu uma autobiografia e c/ quem MFM tinha inegáveis "parecenças" físicas e ainda bem -, em versão soft core, tem um grave defeito: o de pensar que todos os do meio social a que pertencia por ascenção, excepto ela, eram, na altura, ignorantes e/ou conservadores, e que todos os intelectuais de outros meios sociais "embasbacavam" perante MFM. Talvez esta última afirmação seja verdadeira, dada a escassez de beleza física neste último grupo, mas a 1ª não o é c/ toda a certeza. Não me lembro de nenhuma das pessoas das minhas relações não desdenhar de António Calvário, e já nos finais dos anos 50 os meus primos + velhos compravam Elvis Presley, Fats Domino, Gene Vincent, Buddy Holly e por aí fora. Lembro-me de, para aí com 9 ou 10 anos (late fifties, early sixties), ir fazer de "chaperon" às minhas primas + velhas a festas onde se ouvia, pelo menos, Elvis. Ouvi os Beatles do "Love Me Do" poucos meses depois de editado em Londres. Tb não me lembro, se calhar por ser mais novo do que MFM, de as raparigas usarem fato de banho com saiote em Cascais ou na Praia Grande, nos anos 60, a não ser as "possidónias". O "Em Órbita" (do João Manuel Alexandre e do Jorge Gil, amigos de MFM)começou em 1964 ou 65, embora na TV, ao contrário do que diz Eurico de Barros, os Beatles não "passassem". Claro que Portugal era provinciano e saloio (ainda hoje o é e mtº), mas não é exactamente aí que estão a origem e causa última do sucesso de MFM?

JC

6:15 da tarde  
Blogger Eurico de Barros said...

Caro JC, pode ser que a memória me engane, mas que vi os Beatles na RTP por várias vezes, lá isso vi, nem que fosse nos noticiários. Lembro-me de uma vez o locutor se lhes referir como «os simpáticos guedelhudos». De outra vez, na revista «Zorro», que comprava todas as semanas, dirigida por Adolfo Simões Muller, eles eram os «simpáticos cabeludos». Pelos menos provocavam simpatia...

7:59 da tarde  
Blogger João Amaro Correia said...

mudou assim tanto?

8:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Eurico de Barros:

Beatles na TV? Só se fosse notícia de telejornal, não em programas musicais... Teria sido um tal acontecimento que, por certo, me lembraria, tal como quando o "Em Órbita" começou me lembro que se deixava estudo, namorada(s), amigos, futebol e, sempre que possível, se adiava o jantar lá de casa para depois das nove porque entre esta hora e as sete da tarde não se deixava a telefonia de teclas lá do quarto por nada deste mundo! Ainda hoje um amigo meu de infância, que morava no mesmo prédio, tem bobines gravadas com o "Em Órbita"!!! Eu ia lá buscar "singles" para gravar, que o Pedro Albergaria me emprestava! Ok, let the good times roll!

JC

9:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A MFM, nada deve à Marianne Faithfull, é um comentário mauzinho feito a uma mulher bonita, giraça, talentosa, desassombrada. Encaixa mal neste Portugal pequenino, modestozinho, cinicosinho. Devo dizer que sou fã da Marianne

11:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro sorbet de limão:
Deve. Não dormiu c/ todos os Rolling Stones para escolher qual o melhor, não gravou discos que venderam (e vendem) milhões e que fizeram adolescentes (como eu, na altura)sonharem com amores eternos, não é filha de uma baronesa austríaca, não fez não sei quantas curas de desintoxicação!Ah, e não encaixa nada mal neste Portugal pequenino: é fruto dele próprio e não existe longe e fora dele, ao contrário de Marianne Faithfull! Têm, contudo, algo em comum: são ambas mtº bonitas! Chapeau!
JC

12:25 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

E é tão esperta a MFM e andou bandeada com o esquerdalho-intéllo-chic da época, que desprezava Portugal e andava deslumbrado com tudo o que vinha do estrangeiro, inclusive o pior das ideologias totalitárias e das tonterias culturais.

2:26 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Caro JC

Vc é mesmo snob, ou é só diletantismo??? Eu que eu adoro snobs... de souche

12:35 da tarde  

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