segunda-feira, julho 3

Boa tarde!

Suponho que há hábitos que não se perdem. Acostumada a uma pequena cidade de província onde tudo tinha um roteiro certo, com caras que me habituei a conhecer e a tratar pelo nome, a escolha era pouca para comprar fivelas, linhas, lã, pano crú ou cera dos móveis. A escolha era pouca mas eficaz: a loja do sr. A tinha as agulhas nº 2 e a linha nº 3, o armazém da sra. B tinha a lã cor 303, as fivelas e a cera na casa de ferragens do costume e o pano crú, o tecido para forrar saias, os colchetes e os botões madrepérola eram praticamente de venda exclusiva no Sr. C. Diga-se de passagem que comprar tudo isto não demorava mais de meia hora. As restantes duas horas eram ocupadas a falar com quem nos cruzavamos no caminho. Isto na melhor das hipóteses. Sempre que envolvia a praça (mercado) ou farmácia, a coisa podia ser ainda mais prolongada. Quem viveu em cidades de província conhece bem os tempos longos de pastelaria, de mil-folhas e de conversas intermináveis com quem aparecia. Isto a propósito de ter ido a passada semana a três lojas diferentes e não ter encontrado nenhuma. Confusos? Também eu: duas tinham mudado de ramo e uma delas tinha fechado. Tenho muita pena. Sabia que encontrava por lá exactamente aquilo que procurava, com a ajuda preciosa das solícitas empregadas que abriam caixas e caixas até encontrar o modelo certo. E depois eram necessárias poucas explicações; abriam umas gavetas, escolhiam as prateleiras e se não era isto havia de ser aquilo lá ao fundo. Havendo tempo ainda se trocavam sugestões e opiniões . Recordo-me bem do que penei o Inverno passado cada vez que tinha que explicar às empregadas mais jovens que procurava uma canadiana. Suspeito que uma delas esteve quase a sugerir-me uma casa de produtos ortopédicos. Hoje tinha uma vaga esperança de vir a encontrar num centro comercial algo vagamente parecido ao que precisava. Mas não. Só trago os braços a cheirar a uma dezena de perfumes.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Cara Miss Pearls:

Um comentário arrogante, snob e por aí fora + outras coisas do mesmo género de que os portugueses não gostam.

De facto, se ela tivesse sugerido uma loja de produtos ortopédicos teria dado uma excelente e correcta sugestão. Ou não é assim? Uma "canadiana" ("crutch" em inglês) é aquela coisa em que nos apoiamos para andar quando uma lesão ou coisa do género nos coloca dificuldades! Acho que o que você designa por "canadiana" é, isso sim, um Duffel (ou Duffle) Coat" que segundo o meu dicionário é um "casaco grosso de lã do tipo anorak" e era o que o Sr. Marechal Montgomery, aka Monty, usava na WWII. Daí a sua popularidade. Lá em casa, toda a gente do género masculino tinha um - marca Gloverall, beije c/ forro de "tartan" - que era o sobretudo de ir à bola ao domingo, quando os jogos eram todos ao domingo! Acho que o primeiro me calhou em sorte foi trazido por um tio numa viagem a NY. Ainda tenho ali uma fotografia c/ ele vestido, tinha para aí sete ou oito anos, e fomos trocando por nºs maiores à medida que íamos crescendo (ou, por vezes, usando o do pai). Não sei porque se usa, por vezes, o termo canadiana em português. Alguma ideia? Mas está perdoada, porque outro dicionário cá de casa tb indica o termo "canadiana" para "duffle coat".

No hard feelings.
JC

1:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Miss Pearls, compreendo-a muito bem. Tendemos a recordar com saudade factos e locais da nossa infância onde fomos felizes...no meu caso que vivi toda a minha infância e adolescência em Moçambique a saudade não tem fim... quanto à "canadiana" se a ignorância se resumisse a isso estavamos salvos, mas essa seria uma outra conversa

9:49 da tarde  

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