Quem vai ao ar...
Se havia brincadeira que eu não gostava de brincar em criança era a da "dança das cadeiras", tipo "quem vai ao ar, perde o lugar".
Suponho que não tinha jeitinho nenhum para aquilo, baralhava-me, irritava-me, fazia figura de ursa e era das primeiras a ficar sem cadeira. Apesar de ter percebido que ali havia truque, a minha incompetência era absoluta e desconfio que nunca consegui chegar aos oitavos de final. Assim que a música parava e ia apeada para canto, reparava que havia quem tivesse uma cadeira fisgada, fingia que andava por ali às voltas com muito fairplay, mas o que fazia era uma grande ronha à volta dessa cadeira (aliás, como fazem no futebol as equipas que estão a ganhar).
Confirmo hoje que andar a toque de caixa nunca fez o meu género, fraco consolo para quem ia vendo as cadeiras serem ocupadas não pelo mérito do espírto desportivo mas pela astúcia dos concorrentes.
Vendo ao longe, aquelas piruetas e pequenas golpadas pareciam rasteiras ardilosas que as crianças tão bem sabiam simular e que os adultos tão rapidamente aprendem a desenvolver.
Chato mesmo era quando havia duas crianças que se sentavam ao mesmo tempo numa cadeira. Ali, o poder discricionário do chefe do jogo, nem sempre era o mais justo. Mas era assim, ficas tu que chegaste primeiro, siga a música, que ganhe o melhor. O mais hábil, talvez, mas isso sou eu agora a pensar, já com muitos anos de analogias, metáforas e madeixas.
Mas pronto, era mesmo só um jogo para que eu não tinha jeito.
Isto tudo a propósito de uma cena do Cosmo, no Seinfeld, quando entra numa carruagem vazia de metro e procura desajeitamente um lugar para se sentar e claro, não consegue. Ou melhor, acho que consegue: entalado entre dois obesos mórbidos que leêm o jornal.
2 Comments:
É. Como na vida, as cadeiras nunca chegam para todos, estão tomadas quase sempre pelos mesmos, e o arbitro nunca é imparcial....
Contente porque, pela primeira vez, encontro alguém que não nutre afecto por esse jogo.
E com as respectivas metáforas.
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