Fim de tarde (X)
- Achas que o coração tem sempre razão?
- Que pergunta é essa? Partir do princípio de que todo o ser humano tem coração, já é um erro.
Isto a propósito de um cartaz de publicidade a um carro de luxo espalhado por Lisboa e a conversa alargou-se para o que unia e o que separava as pessoas, num jogo de palavras que ele sabia que os divertia:
Unem-se os generosos aos altruístas, os leais aos fieis, os frios aos calculistas, os malandros aos insolentes, os carinhoso aos meigos, os insensíveis aos indiferentes, os lutadores aos corajosos, os pacientes aos persistentes, os prudentes aos ponderados, os arrogantes aos presumidos, os provocadores aos insultuosos, os inteligentes aos talentosos, os justos aos honestos, os interesseiros aos egoístas e os amantes aos apaixonados.
Ambos sabiam que nada era assim tão simples, e que tudo isto não passava de um exercício de sedução em que se jogava à cabra cega com a sua própria natureza, que os animava, que a fazia rir e dar tréguas à vida. Um pretexto para uma conversa de fim de tarde, com o vento quente na avenida. Como ele gostava quando ela o acompanhava.
Qual era mesmo a questão? Ah, se o coração tem sempre razão.
- As coisas que se dizem para vender carros. Deu-lhe um abraço e disse-lhe baixinho ao ouvido que o coração tem razões que a própria razão desconhece.
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