"Chá e simpatia"
Ontem, no Auditório da Gulbenkian, vi avançar para mim um casal sorridente que, com os meus desgraçados olhos, de longe não reconheci. Ao passar por mim, ela, acentuando o sorriso simpático, tocou-me no braço e disse:
- Vieira da Silva
*
Lembro-me ainda perfeitamente do dia em que a Sarah Afonso me disse, com os olhos iluminados:
- Sabe, Fernanda, vou casar! Com o Almada, imagine, com o Almada!
*
Apesar de tudo a vida é um conto de fadas em que, infelizmente, há mais bruxas do que "Alices no País das Maravilhas" e mais dragões do que "Príncipes Encantados".
Se não fosse tão difícil, gostaria de escrever contos de fadas para adultos.
Fernanda de Castro "Ao fim da Memória", vol.I e II
* No entanto, durante o primeiro ano da minha doença, isto é, em 1982, ainda consegui, várias vezes, passar para uma cadeira de rodas e organizar umas reuniões literárias a que chamei, dum modo global, "Chá e Simpatia".(...)
O António, meu filho, falou-nos do mito do Quinto Império. O David Mourão-Ferreira de poesia e, cúmulo de gentileza, da minha poesia. O Orlando Vitorino veio falar-nos de teatro, o António Lopes Ribeiro, de cinema.
Imagem-Fernanda de Castro: Álbum de Retratos
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