Fim de tarde (IX)
Encontrou-o por acaso naquela pastelaria onde passaram juntos tantas tardes. Era ali que se encontravam ao final da tarde antes de irem para casa. Eram felizes nessa altura. Ela podia jurar que eram felizes. Acreditava que lhe conhecia o corpo e lhe adivinhava o pensamento. Mas depois tudo fora muito difícil, doloroso e já não queria pensar nisso. Assim que lhe vinham as recordações ou lhe pressentia uma presença que ela sabia não existir, afastava o pensamento e reprimia a ilusão.
Inesperadamente, encontrava-o ali algum tempo depois. "Ainda é cedo, pensou ela assim que o viu. Ainda não se consegue fingir". Conseguiu balbuciar umas frases mal amanhadas perante um homem confiante, sorridente e completamente imune à presença dela. "Era isso, claro. Cherchez la femme", foi tudo o que pensou enquanto observava uma mulher que se dirigia para junto deles.
Angustiada, acordou de repente, assustada, olhou para o seu lado na cama e ouviu uma voz ensonada: "Tomas muitos cafés, já te disse". Sorriu e encostou-se juntinha a ele: "Sim. Estava na pastelaria".
2 Comments:
Gostei muito mesmo! Mas «femme» tem uma gralha...bjs
Muito obrigada João.
(Não sabia como terminar a história. Ou melhor, sabia, mas achei melhor assim :)
E já corrigi a gralha.
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