Fancaria, pó e a nota de cinco *
Marginal fechada, A5 entupida, o mar tão perto e a feira já ali.
Um calor de rachar, mulheres, muitas mulheres agarradas a muitos trapo, a maior parte deles completamente inúteis, mas irremediavelmente indispensáveis no momento da pechincha. As vendedoras gritam "ó freguesa é comprar que quero ir outra vez ao Brasil", "ó dona não tenha vergonha de comprar barato", e a gente compra, esquece o IVA que não é cobrado, leva a blusa que "é só dares um pontinho na manga", provam-se soutiens em cima de tshirts transpiradas que "aqui ninguém nos conhece", partilham-se opiniões com especialistas: "vá lá mais para o fundo que é mais barato".
Um produto que sai muito é tudo o que tem marca: o crocodilo, o Gutche, o Luis Viton, o taco de golfe, Cristiane Diore, o Oskar delaRenta, a Leviz e assim.
Mas o mercado funciona: eu queria a tshirt azul, a senhora com o bebé queria a amarela, mas o vendedor só vendia duas a cinco euros: "tome os meus dois euros e meio, a senhora põe os seus e assunto arrumado".
Chega-se ao fim com os braços cheios de sacos, encaloradas, mas todas contentes com as pechinchas de ocasião, numa contabilidade delirante e inacessível aos não frequentadores daqueles locais.
E o que dá mesmo gozo, é abrir os sacos em frente das pessoas que mostraram enfado perante a perspectiva de duas horas ao calor e ao pó: "Porque não trouxeste uma igual para mim? Vê lá se te lembraste que eu precisava de uma coisa destas??", e poder responder "Eu empresto."
Não convém é ir aos mesmos sítios: lá hão-de estar meia dúzia de mulheres com as mesmas túnicas, outra meia dúzia com aquelas blusas que nos põem a assar de tanta fibra e dúzia e meia com as mesmas sandálias de pano . Tudo a duas notas de cinco, claro.
** Leia-se cinco oiros
Post re-editado, com alterações.
Obrigada ao Corta-Fitas pela amável referência.
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