quarta-feira, fevereiro 22

Upstairs, downstairs

Por acaso Carla, o que mais me interessou no episódio de ontem do Status Anxiety não foi, como referes, a questão da igualdade. Ou por outra, achei uma abordagem muito curiosa, mas foi a referência à perspectiva da morte, o ponto que mais me tocou. Obviamente, poderão estar aqui envolvidas questões pessoais e corre-se sempre o risco da identificação. Quase que poderia dizer que estes episódios se resumem à questão levantada pelo autor “Quantos dos nossos “amigos” nos iriam visitar ao hospital?”. No testemunho que foi dado pela doente com cancro, toda esta questão do status, da ansiedade, ou da ostentação hipócrita da felicidade se torna irrelevante quando, perante a perspectiva da morte, passou a concentrar as atenções nas relações que realmente importam. Numa apreciação pessoal da luta pelos valores centrais definidos pela sociedade e na ansiedade que daí resulta, creio que quando se tem a morte na alma, isso torna-nos mais leves, mais despreocupados, menos mesquinhos e claramente menos preconceituosos. Os problemas que dantes nos atormentavam e nos tornavam irredutíveis, passam para um outro patamar de avaliação. Esta relativização não significa irresponsabilidade ou alienação. Pelo contrário. Trata-se somente de encarar os problemas e de os resolver de uma forma mais simples, menos tortuosa ou desgastante. Como afirmava John Ruskin, um dos autores citados no programa :”There is no wealth but life." Dei-me ao trabalho de ler alguns textos deste vitoriano, e é inegável o carácter sedutor do seu pensamento.: The first test of a truly great man is his humility. By humility I don't mean doubt of his powers or hesitation in speaking his opinion, but merely an understanding of the relationship of what he can say and what he can do. Depois das referências a Max Weber e a Marco Aurélio, foi com uma envergonhada admiração que ouvi o autor citar os boémios, dando como exemplo o modo de vida de Vanessa Bell. Mas confesso que não foi Schopenhauer (misantropo inteligente, como foi chamado) que mais me fascinou, mas sim a representação do respeito pela vida vulgar pintada por Hooch. Ou melhor, como a beleza se pode encontrar sem convenções da sociedade.

Isto não é pura economia, pois nã0? As coisas que se aprendem com um homem que foi the most influential art critic of the nineteenth century. A watercolorist, a botanist, a moralist, a sensualist, a socialist, an economist, a Romantic, a prophet, a priest, and a poet, his writings integrate the aesthetic with moral purpose and ecology.

Que manchetes fizeram aqueles rapazes do tablóide inglês de desporto com a Madame Bovary e ao Otelo? Não me recordo....

1 Comments:

Blogger Joao Augusto Aldeia said...

John Ruskin não é de facto pura economia. Pelo contrário, é economia bastante impura, conforme esclarece Schumpeter:
"Existe uma razão concludente para que objectemos ao modo como Duskin lida com os problemas económicos: ele não fez neste campo o que fez no campo da arte. Sabemos que ele se preparou muito meticulosamente para a sua carreira como intérprete da arte; e que dominou as técnicas e estudou os detalhes históricos de acordo com o canon (...) No campo da Economia ele não fez nada disto. Tudo o que fez foi juntar uma generosa indignação a observações meio apreendidas e bocados de leituras mal compreendidas. O julgamento que eu lhe faço é exactamente o mesmo que ele faria a qualquer outro que se dispusesse, por exemplo, a criticar as pinturas de Turner sem ter previamente adquirido, através de um estudo moralmente neutro, um domínio adequado dos factos e técnicas relevantes".

No domínio da Economia John Ruskin parece ter tomado de ponta John Stuart Mill, o mais reputado economista do seu tempo, tendo mesmo criado o adjectivo "millanesco" para ridicularizar as proposições da Economia Política.

8:04 da tarde  

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