quarta-feira, setembro 21

Bon soir, Paris

A Notre Dame de dia, as pontes do Sena ao cair da tarde e um Peugeot antigo que passa à meia noite. Em vez de se transformar numa abóbora, o nosso personagem americano entra no mundo encantado das suas (nossas) referências artísticas (T.S. Eliot? Prufrock is like my mantra), frequenta o mundo hedonista em que se movem, vê-lhes o rosto, e estende-lhes a mão. Não sabemos se a linda Inez (que o realizador maltrata com roupas sem graça e retrata a futilidade) gostaria de ter conhecido o Dali ou se teria ficado encantada com a festa de casamento de uns surrealistas malucos (cheia de animais embalsamados), como lhes chamou Gertrude Stein; a verdade é que não quis esperar e, enfadada voltou para os robes turcos do hotel.
Em bom rigor, Woody Allen tratou mal todos os americanos: "pedante", foi o que a guia turística (encantadora Bruni com aquele travozinho francês) chamaria ao intelectual da conferência na Sorbonne). Inesquecível, aliás,  a visita a um antiquário e a admiração por uma cadeira tão milionária quanto horrível, mas que ficava bem na futura casa de Malibu.
Fantástico, aquele name-dropping de gente talentosa, tumultuosa, vaidosa, eloquente e carismática: Cole Porter , Buñuel e o toureiro Belmonte(who else?), à mesma mesa Toulouse-Lautrec, Gauguin e Degas, Matisse, Braque, Man Ray, Modigliani, Joséphine Baker, Hemingway, Picasso,  T. S. Eliot, Scott Fritzgerald e  Leo Stein de copo na mão em brasseries, bistros, cabarets, de festa em festa em casas de porta aberta a gente cosmopolita. Fora desta cápsula mágica do tempo e sem retorno possível, só lavandarias e as construções do presente.
Viajamos por Paris, reconhecemos aqueles locais que também amamos, percorremos as ruas da Rive Gauche, bebemos uma cerveja junto à Opéra, fumamos uma cigarrilha na sala de Gertrude Stein, dançamos com a Joséphine Baker, and if  the chimpanzees in the zoos do it, Some courageous kangaroos do it, let's do it, let's fall in love.
Ao contrário do sugerido pelo putativo sogro, só não vimos o Trostky porque andava ocupadíssimo com as lutas internas do Partido. Ah!, e os quadros do Matisse a 500 francos! E a sugestão feita a Buñuel de realizar um filme sobre gente impedida de abandonar uma sala, que fantástica ideia! So many peolple, so little time.
Por fim, o desentendimento, a infedilidade e a ruptura. Mas como poderia o personagem amar alguém  que não gosta de andar à chuva?

Artigo: Vou ali dar um salto aos anos 20 e não sei se volto de Eurico de Barros

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bravo!
Tb. já tinha dito umas palavrinhas, menos conclusivas: http://jansenista.blogspot.com/2011/08/drop-dead-gorgeous.html

Cumpts., O Jansenista

12:45 da manhã  
Blogger M Isabel G said...

AInda não tinha lido:)
Usámos a mesma expressão- "name dropping"
E o argumento faz alguma falta perante tanta beleza:)??

12:55 da manhã  

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