Inverno na Galé III
Aqui estamos de novo no Pátio da Galé, 2ª fila, onde gente simpática acomoda os mais exigentes e também os mais mal educados. Seja porque chegam tarde ou porque querem ficar in the front row (plus who's sitting with who and who's wearing what...), garanto que é necessária muita delicadeza e profissionalismo para correr com eles ou encontrar uma "aberta" praticamente invisível , trabalho para o Pedro, Manuela e por vezes a Rita, sempre fantásticos. Este ano, com uma sala mais pequena, foi uma gestão deveras complicada.
Daqui onde me encontro, reconheço muitas caras conhecidadas destas e doutras andanças cor-de-rosa: actores de novelas, jovens ídolos da canção, antigos manequins, apresentadoras de televisão, algum jet 7, jet seis, e porventura jet 4. Seja como for, são todas magras e muito fashion (gaita, que não consigo ser fashion).
Ao lado, as mais maduras: nestes cinco anos, era suposto envelhecermos, ganharmos peso, rugas e até mais juízo. Curiosamente, e depois de uma vista de olhos às habituées do evento, só eu pareço envelhecer, ganhar peso e rugas. Em compensação, estamos todas louras e quem sou eu para avaliar da sensatez de cada um.
No bar, ao qual o meu passe dourado dá acesso, bebem-se cocktails de Martini dourado. Em virtude da minha invisibilidade, levo algumas cotoveladas de gente mais exuberante com pressa de chegar ao balcão, mas faz parte do enredo em que voluntariamente (e com gosto) participo.
Por esta altura já tenho um saco com revistas ao ombro, copo na mão esquerda, carteira no braço, casaco pendurado na carteira, cigarro na outra mão, e conversas cruzadas com que me acompanha. Finalmente vejo uma moça gordinha e outra que nada deve à beleza: o martini torna-me solidária e menos solitária. A natureza humana é mesmo assim e a luta contra a genética não pára nunca.
Disparam-se mil flashes em feições ensaiadas, um jeito por favor, o que quer dizer, chegue-se para lá que este retrato é meu. De nada servem as horas perdidas em Fonética, tratados de classificação bibliográfica ou diplomas enfiados em caixas douradas; não tens estilo, não tens retrato. Pois é filha, mas com o dinheiro do teu marido, também eu.
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