terça-feira, fevereiro 22

Conversa de ruas

Houve um sobressalto pelos jornais com a notícia de que um grupo de amigos pretendia atribuir a uma rua da cidade o nome de um cronista social recentemente falecido. Creio que não será mais do que uma sugestão, até porque a toponímia da cidade tem critérios rigorosos e não estou bem a ver como se poderia justificar esta atribuição. Nada temamos, que esta cidade já tem ralações que cheguem.
Na cidade grande já vivi em ruas com nome de um político do tempo de D. José, um médico e um matemático. Na cidade pequena tinha vistas para uma avenida com árvores, bancos de madeira, e  um liceu, tudo com o nome de um nobre estratega militar beatificado (liceu, loja, avenida e café). Eram tempos em que não havia subúrbios, a população era pouca e ainda não tinham alucinado com planos directores.
Pelas minhas aldeias, tudo é mais fácil: existe uma rua nova, uma rua velha e uns arrabaldes. O resto, vem por proximidade com locais ou referências antigas. No meio rural mora-se "para os lados do Espírito Santo, do cemitério, da horta velha, ou do Santo António". Não há que enganar, que se chega lá.
Na aldeia da indústria, as fábricas há muito que fecharam, mas as ruas identificam-se ainda pelos nomes dos seus antigos proprietários ou pela proximidade de cafés (que tinham sempre diminutivos dos donos). A minha casa, por  exemplo, tinha uma morada fiscal que ninguém usava e a rua era conhecida pelo nome de uma das empresas. Tudo normal, chegava-se lá nas calmas.
Não se morava perto da estação de Palhavã, mas para os lados da casa da prima, da Senhora da Piedade ou da praça. O gossip não se comprava em revistas: um café na pastelaria do costume era mais do suficiente para alimentar o falatório. Em bom rigor, uma cidade cabia em três avenidas e meia dúzia de referências locais: com um chá e torradas dava-se a volta à capital de distrito sem precisar de GPS.
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