Diário de uma gata enquanto blogger (2)
Meteram-me numa mala especial, montaram o estaminé numa cozinha desconhecida e deixaram-me entregue a uma familiar, a proprietária deste espaço amarelado, uma madura com boa vontade mas com pouco jeito.
Em bom rigor, confesso que lhe tenho feito a vida negra: fujo a quatro patas sempre que ela me quer passar a mão pelo pêlo e escondo-me nos cantos mais suspeitos. Até me chega a partir o coração quando a vejo a abrir a máquina da louça, empinada nas cadeiras ou espreitar por debaixo das camas, mas não posso ceder. Estou ali contra a minha vontade e não me há-de ver os dentes. De dia, ando à solta pela casa, encosto-me na cama, trepo pelo louceiro, como à vontade (a comida é boa) e durmo a sesta na caixa que veio da outra casa. Assim que a ouço, piro-me, desapareço para parte incerta, enquanto a madura anda em tristes figuras a chamar por mim. Parece que me chamo Zecky. Podia ser pior: ainda a ouvi tratar-me por Sissi, logo a mim, uma repúblicana de bigodes frondosos.
Descobri com satisfação que não gosta de pífaros, violinos nem vozes agudas e sei que sofre por não perceber nada de Brahms: é muito difícil, queixa-se com razão. Também se deve queixar de gente que vê na televisão, porque lhes corta logo o pio e a imagem (desconfio quem seja). Entretanto, já fumei cerca de uma dúzia de marlboros, o que não me faz nada bem.
E agora tenho que vos deixar. Vou preparar a estratégia para hoje, quando ouvir a porta abrir, uma verdadeira arte da fuga de fazer inveja a qualquer ilusionista, como aliás podem ver na fotografia que me tentou tirar:
2 Comments:
Uma sugestão:
não ligar nenhuma à bichaninha, de modo a que ela tenha que tomar a iniciativa de se aproximar. Os gatos adoram ser eles a decidir ritmo e grau de aproximação. :)
E parabéns pela coragem e o coração de aceitar uma gata em segunda casa.
Obrigada
Foi isso mesmo que me disseram para eu fazer.
Ontem á noite já se aproximou mais ou menos.
mas come e bebe bem.
:)
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