Voltas da vida
Sai vapor quente do ferro que aquece. Segura-se o cabelo, uma volta, outra dobra, em compasso seguro. Tiram-se os vincos em movimentos apertados, alisa-se a toalha em braçada larga e fazem-se contas à vida. A humidade desenruga a renda do lençol, uma volta, outra dobra, solta-se o cheiro a lavado do algodão que há-de ter de novo o cheiro do corpo, um vapor imperceptível mas subtil, segura-se o cabelo que teima em cair, as voltas que a vida dá.
Sossega-se o ferro para a geometria da camisa, os punhos, mangas, as costas, a frente e o colarinho, na cadência certa, e é o vapor quente que aquece a cara e alisa as rugas imaginárias. Podia ser tudo assim tão certo, sem aspereza nem pontas soltas.
Volta-se o lenço, de um lado e de outro e a gente sorri: é no carinho que se faz a dobra.
Imagem: Exposição The Edwardians: Secrets and Desires (NGA)
1 Comments:
miss
Um dos melhores post de sempre
t
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