quinta-feira, janeiro 14

O meu café*

Entro num destes cafés com história, onde ainda se respira o ar do tempo de um passado não muito longínquo e imaginam-se os susurros das vozes que encontramos nos romances, nos quadros, nas caricaturas e na dramaturgia. Não será difícil imaginar favores literários atribuídos entre três bicas, criaturas que faziam dos cafés os seus salões assim que deixavam os quartos alugados (Bocage, Batalha Reis, Pessoa, Rodrigues Miguéis), artistas falidos (Gomes Leal) que se contentavam com um bolinho e cinco cafés para esconder a fome do dia, tabaco cravado a qualquer um, outros que se instalavam nas esquinas encostados às paredes, fatos poídos voltados ao contrário, todos chiques com a sua bengalinha, de carteira vazia e a um canto, Stuart de Carvalhais a desenhar caricaturas a troco de dois brandies. Madame, que deseja? Fotografia: Cidade surpreendente
*Revisitado
eXTReMe Tracker