quinta-feira, novembro 12

Mas a "3ª via" teve o fim que se conhece

Porque leva um saco de bananas, perguntava um jornalista português em reportagem durante a Queda do Muro. "Para os meus filhos. Nunca viram bananas", foi a reposta do habitante de Berlim Oriental. É por estas e por outras que tenho dificuldade em compreender tantas hesitações e explicações titubeantes. Não sei porquê, mas recordo-me sempre de um sketch do Herman José no papel de Diácono Remédios com dificuldades em verbalizar a expressão "ver...melhos".

Nos documentários que têm passado recentemente nas televisões sobre os países de leste durante a Cortina de Ferro, antigas estrelas pop, fotógrafos, humoristas e escritores da antiga República Socialista da Checoslováquia descreveram a mentira e a hipocrisia em que todos pareciam estar envolvidos e explicaram como a retórica comunista, envolta em propaganda, era tão diferente da realidade.

Durante a Primavera de Praga, uma cidadã é acordada pela mãe: "Marta, fomos invadidos". "Mas invadidos por quem? Os americanos já cá estão. Porque querem invadir-nos?" Foi assim o começo da Operação Danúbio e do processo de normalização, em que o suicído de Jan Palach (imolado pelo fogo) viria a ser um símbolo da luta contra a repressão. As imagens de Václav Havel vigiado na sua própria casa deveriam transmitir alguma coisa, e que uma revolução, mesmo de veludo, implicou uma coragem mal silenciada de lutadores antigos. Da Roménia de Ceauşescu vimos imagens da destruição da cidade antiga para que o ditador pudesse realizar o seu megalómano Palácio do Parlamento, os relatos da inúmeras mortes de operários durante a sua construção, a paranóia de trazer gente dos campos para as cidades, desenraizando-as das suas origens e enfiando-as em casas absolutamente miseráveis, com escassez de alimentos e torturados pelas baixas temperaturas.E quando já nada havia para comer, visto que todos os bens alimentares eram exportados, sobravam os pés de porco, verdadeiros patriotas que não saíam do país. As derradeiras imagens deste casal de ditadores, repetidas vezes sem fim, mostravam uma Elena Ceauşescu (com mau cheiro, nas palavras do guarda) que gritava "Criei-vos como uma mãe". Bem vi, e nunca me hei-de esquecer, dos "seus filhos" deficientes abandonados como animais em instituições inqualificáveis. É por isso que não percebo quando os ouço defender um regime apascentado por esta gente canalha.

4 Comments:

Blogger CPrice said...

.. nem eu Isabel. Não só não entendo como me recuso a encarar com imparcialidade os argumentos que tal defendem.
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Beijinho e bom fim-de-semana
(Once)

11:11 da manhã  
Blogger Nuno Castelo-Branco said...

E está a dizer pouco, porque da minha boca saem coisas bem piores. Quanto aos checos, a Isabel teve um lapso e disse ... "os americanos já cá estão" Decerto queria dizer ... "os russos..."

8:56 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Nuno
Ela disse mesmo os americanos. COmo se vivia já algum desanuviamento, nunca lhe passaria pela cabeça que os russo estavam já com os tanques na rua

9:10 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ai o Nuninho, tão fofinho que ele é...

10:39 da tarde  

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