quarta-feira, novembro 18

Do outro lado

Ensinam os genealogistas que se deve mencionar, no verso das fotografias, informação que permita, no futuro, identificar as imagens, ou seja, o local, os intervenientes, a data, a ocasião, etc.
São curiosas, as fotografias antigas, com o seu habitat natural em velhos álbuns, gavetas de cómodas ou caixas antigas. São, na maior parte das vezes, registos de momentos felizes ou simplesmente formais, onde se encontra um pouco de tudo, desde fotografias de estúdio com meninos vestidos de marinheiro, de carnaval, o fato da 1ª comunhão, o bebé gorducho com os refegos , até casais janotas em cadeiras compridas, qual dos dois com o bigode mais garboso.
Tal como agora, lá estão as fotografias ao lado da personalidade importante, influente, abastada, o presidente, o patrão, o senhor engenheiro ou o parente rico. Hoje chamam-se celebridades ou ronaldos, não desfazendo na carreira meritória dos jogadores de futebol nem nos grandes feitos e vidas gloriosas das pessoas conhecidas como "importantes".
Saídas das molduras, lá estão as fotografias dos homens fardados da família, em tempos de guerra, registos de locais e gentes exóticas, guardadas na esperança de até ao meu regresso. E claro está que não poderiam faltar as imagens perto de monumentos, à la minute, os casamentos, as férias, e os parentes afastados a quem perdemos o nome e o rasto.
Do outro lado, no verso, mãos zelosas registaram ocasiões para que não se perdessem nas recordações nem nas gavetas, como um teatrinho de escola. É nisto que o digital fica a perder, feito de caracteres normalizados sem mãos que acarinham as memórias.
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