sexta-feira, novembro 20

Com penas

Andam meio apardalados, os pássaros da minha janela. Noutros tempos, logo que começava a escurecer, enfiavam a cabeça sob as asas e assim ficavam até o sol nascer. Caladinhos, sem piar. Not anymore. Agora ouço-os tagarelar à luz do dia e, incansáveis, não param quando o sol se põe. Tomam coisas esquisitas os pássaros da minha rua, baralham-me o dia e a noite, privam-me dos sinais que induzem o sossego, como o toque de campainha, o apito de uma fábrica ou o sino das Avé-Marias. Como a Irmã M., que rezava ao som da buzina do meio-dia no quartel de bombeiros.
Diz-me um entendido que já deveriam, por esta altura, ter partido para as terras quentes do sul, mas vão ficando por cá, a passarinhar, com as temperaturas amenas que encontram nas árvores da cidade. Afinal, a natureza é muito simples.
Chilreiam todo o dia, twitam, namoriscam sem sair dos galhos, comunicam sem saltar dos ramos, enfileirados, truculentos, todos iguais, tagarelas, desconfio que gostam de se ouvir. Os mais inquietos saltitam de árvore em árvore, uma bicada aqui, uma vénia acolá, à procura de comida ou companhia em vôos solitários rasantes à minha janela sem beira, disputando o espaço com acerto, conhecedores do norte e do sul. Não tenho asas, mas tenho pena, não vos entendo.
(Imagens: Edward Hopper)

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Miss Pearls

E já agora de quem são os quadros ?

3:58 da tarde  

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