terça-feira, fevereiro 10

Civilização com contador

Felizmente não é muito comum (pelos menos aqui), mas por vezes acontece e parece que dura uma eternidade. Quando, por motivos estranhos ao consumo interno (tipo fusíveis), a luz desaparece das nossas casas, fica-me sempre a sensação de que não é só o dvd que endoidece ou os relógios que ganham vida própria. Com maior ou menor paciência, o interruptor que nos liga à vida doméstica ou profissional fica suspenso à espera que alguém (não sei quem, onde ou como) corra a repor a ordem das coisas, ou seja, nos permita regular de novo o tempo intermitente dos relógios irritantes.
O desaparecimento da electricidade permite, porém, ouvir barulhos que raramente escutamos. De repente, ouvem-se as vozes das casas sem os isolamentos produzidos pelos sons do quotidiano: a música, o televisor, os jogos, tudo aquilo que é susceptível de criar ruído e de que só nos apercebemos quando não existe. Na rua, os alarmes desatam a tocar como se as viaturas estivessem também ligadas à corrente e as lojas abrissem as grades ao som de megafones a pilhas.
No relativamente curto espaço de tempo (espera-se) que dura a suspensão do quotidiano e caso não haja gente presa no elevador, os sentidos andam às apalpadelas por um fio de luz , todas as urgências ficam sem sentido e os compromissos adiados. A culpa é sempre dos tipos que querem lucros na empresa, dividendos na bolsa e demonstram incompetência para com o consumidor. Quase duas horas a reparar um cabo, ou lá o que é. Onde já se viu? Quem faz o almoço para amanhâ?
Bem sei que de noite é maçador. De noite e com frio é uma chatice. A vida está ligada à corrente e o Jacinto em Tormes é ficção.
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