sexta-feira, janeiro 16

Sem rosto

É o primeiro filme de Spielberg, realizado para televisão, ainda hoje com algumas das cenas mais perturbadoras do cinema. Não sei bem a razão, mas recordo o Duelo muitas vezes. Conta a (história?) de uma perseguição macabra de um camião, conduzido por alguém a quem nunca vemos a cara mas somente os braços e as botas, a um carro vermelho conduzido por um vendedor aborrecido com a mulher. Praticamente o filme não tem diálogos e são poucas as personagens com quem se cruzam durante o trajecto. A película é feita de pó, paisagens inóspitas, fumo dos escapes, roncar de buzinas, um café de beira de estrada e manobras assassinas sem razão aparente feitas por um desconhecido que persegue alguém por motivos desconhecidos.
Suponho que seja isso que cria o medo. O medo do desconhecido. À semelhança da inexplicável agressividade de um tubarão ou de pássaros aterrorizadores, no Duelo vemos uma ameaçadora perseguição feita por alguém que desconhecemos a um viajante que, curiosamente, se chama Mann.
O assustador no filme não é o medo de alguém (porque não o vimos), mas o medo de alguma coisa, de uma máquina gigante, assustadora, anónima, irracional como um pesadelo sem rosto nem explicação.
Os pesadelos adquirem muitas formas, não necessariamente a forma de uma bota de pele de cobra.

2 Comments:

Blogger Mike said...

Parabéns Miss Pearls, por este "sem rosto" que adquiriu a forma de um post que gostei de ler. :-)

11:21 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

obrigada Mike

3:44 da manhã  

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