sábado, dezembro 6

Bond from the heart

First things first: o home é sexy, a roupa cai-lhe bem e o bronzeado também. Ao contrário dos outros heróis de séries anteriores, envolvidos em cenas de amor (principalmente as finais) em lugares idílicos e inacessíveis, este 007 é brilhante porque consegue torná-las verosímeis. Nada tem que ser envolto em cápsulas, entre cortinas de gaze ou em águas profundas e garrafas de champanhe a condizer. Aliás, tratando-se de uma sequência ou por assim dizer, de um acerto de contas com o final do Casino Royale, e à excepção do breve romance com a agente Fields ("I can't find the um... the stationary. Do you want to help me look?") , não há no Quantum of Solace, outra cena de amor ou de tensão amorosa. O beijo no final é demasiado desajeitado para ser um momento de paixão.
O que faz de Daniel Craig um excelente agente para matar é exactamente a natureza do 007: ter ordem para matar. Por isso, ele suja-se, tem feridas na cara, limpa-se do sangue e quase o vemos chorar. Até Camille, a sort of Bond girl, em vez de um corpo nota máxima, apresenta cicratizes de queimaduras nas costas. A tradição deixou de ser o que era.
Das séries anteriores temos as aventuras no mar, no ar e no deserto, mas sem os gadgets ardilosos como isqueiros, canetas ou carros com lança-chamas. O homem não anda sempre vestido a preceito e, a bom rigor, só o vemos uma vez de smoking porque está na opera e mesmo assim teve matar alguém para o conseguir. Até o velho Martini shaken, not stirred desapareceu para dar lugar um outro cocktail à base de vodka, gin e uma casca de limão, que os passageiros vip da Atlantic Airlines puderem provar durante a promoção do filme.
E neste filme a realidade deu lugar à ficção, a crise dos combustíveis, a corrupção no Haiti e na Bolívia, problemas ecológicos, os falsos apóstolos do aquecimento global (com um vilão ironicamente de nome Green) e uma morta coberta de óleo em vez de ouro. É aliás com uma garrafa de lubrificante que o agente abandona o malandro no deserto: "I bet you make it 20 miles before you consider drinking that... goodbye, Mr. Green"
He's the man.
Imagem: The Guardian

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

He might be the man, but he isn't a Bond. A real Bond. :-)

12:22 da manhã  
Blogger A. said...

Contra a maré, concordo absolutamente, Miss Pearls. Mas parece que a maior parte dos espectadores ainda não se afeiçoou às subtilezas deste novo Bond - é que estamos não só perante um novo actor, como perante um personagem inteiramente renovado.
Copio alguns excertos do que escrevi no meu próprio blog:
Concordo que o novo 007 é mais real e mais duro, mas sinceramente já estava um bocado farta dos floreados. E quem é que ainda tem paciência para homens distantes? Apesar de gostar muito de Pierce Brosnan (o homem é tão bonito, seria impossível não gostar), na minha opinião Craig é o "Ultimate Bond" (até porque é aquele que mais se aproxima (ultrapassando) de Sean Connery, o original e adoro-o assim, t-shirt com camisa meio aberta por cima, cabelo perfeitamente desalinhado, cortes sangue e contusões, e não a ensaiar malabarismos espectaculares de fato escuro e gravata. Gostei bastante do Casino Royale (que só agora vi em dvd porque passou no cinema num periodo de abstenção cinéfila), precisamente porque é mais denso psicológicamente do que o que se vinha fazendo em termos de 007. Gostei também do facto de terem feito uma pausa nos "gadgets" porque a coisa já havia tomado proporções disparatadas. Tudo isto a juntar a um Bond revigorado, com muito mais textura, simultaneamente duro e emocional ou seja complexo e, também por isso mesmo, bastante apelativo (e quem é que dizia que nunca mais veriámos uns olhos azuis como os de Paul Newman?), constitui para mim, uma fórmula de sucesso."
E tudo confirmei depois de ver Qantum of Solace. Ah e para terminar, Miss Pearls, a "line" do stationary é de facto genial - pode ir visitar-me e ouvi-la.
Saudações
A.

11:07 da manhã  

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