"(...) As vidas além das cortinas iguais à minha? Diferentes?(...)"
Há já algum tempo que deixei de ler os livros de Lobo Antunes, mas sigo-lhe as crónicas que publica na revista Visão, talvez as melhores em português, actualmente:
“E agora começa a anoitecer tão cedo. (…) Janelas iluminadas e eu a imaginar as vidas atrás das cortinas, por vezes, num intervalo, um relógio, uma pagela, um lustre que me assusta, vultos. Gestos femininos bonitos sempre, a delicadeza com que as mulheres tocam nos objectos, a harmonia dos dedos: somos pesados e sem graça, nós os homens, ao pé delas. Pesados, brutos, canhestros: não possuímos seja o que for de ave ou de nuvem, a nossa carne é densa e gaguejante. Dá-me uma paz de eternidade ver uma mulher numa casa, o modo como o seu corpo habita o espaço, a forma como vestem, de si mesmas, os compartimentos, com um simples passo, um simples olhar. "
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