Final de festa
Ontem e hoje não tenho ouvido outra coisa senão gente a lamuriar-se de tanto alimento que ingeriu durante estas festas. Por mim, acho mal e não me queixo. Lamentar-me de uma mesa farta, essa agora?! Pois os sonhos e o bolo-rei têm o mesmo sabor no resto do ano? Julgo até que o presente do marido, dos pais ou dos irmãos, a surpresa do namorado e o artesanato dos filhos adquire um significado diferente, objectos de que se vai falar no resto do ano e pelos quais se tem um carinho e uma lembrança especial. Diga-se para o bem e para o mal: sei de crianças desoladas por receberem uma prenda mais cara do que as dos irmãos, e por isso uma única prenda, motivo de todas as tristezas. Nestas coisas, o número conta, estou farta de o repetir.
Voltando aos estômagos pesados de perú e cabrito, ouvi hoje uma madura numa perfumaria pedir um creme para a cara, dizia ela, desgraçada de tantos fritos. Dir-se-ia que a qualquer momento lhe poderiam saltar azevias das bochechas e erupções de filhós da testa. Enfim. Já lhe tenho ouvido chamar muitos nomes, mas fritos, foi a primeira vez.
Pois eu gosto do Natal, de uma linda mesa cheia de iguarias que não tenho no resto do ano, gosto que me ofereçam uma travessa de trouxas de ovos, frutas cristalizadas frescas e claro, de comer tudo aquilo a que tenho direito. A queixar-me não tenho o direito.
1 Comments:
muitísimo bem dito/escrito, como sempre!
um forte aplauso de um esquilo empanturrado mas feliz!
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