quarta-feira, dezembro 26

Direito de ser feliz, direito de escolher - 24.12.2007, José Manuel Fernandes (Público) O jovem David está morto por rumar a França. O Manel já é trintão e não há meio de casar. A Ana Maria ficou pela 4.ª classe porque tinha de ajudar a família a botar as vacas nos lameiros. Numa escola só há seis crianças, vindas de duas aldeias: o João, a Magali, o Tiago, o Márcio, o Zé e a Gabriela. O Joaquim mergulha as mãos na barriga aberta do porco e tira de lá um rim roxo. (...)A vida não anda para trás e não vale a pena sonhar com o regresso dos dias em que os teares de Pitões ainda funcionavam, havia mais movimento no forno comunitário de Tourém ou a maioria das reses era de raça barrosã, que desenvolviam grandes cornos mas levavam mais tempo a dar dinheiro. No Barroso ninguém sonha com esses tempos, ainda mais difíceis - no Barroso vive-se o ano inteiro, não apenas durante aquele mês em que os forasteiros por lá passam em busca de exotismo. No Barroso a vida não proporciona muitas escolhas para além da de sair do Barroso à primeira oportunidade. É o que tem feito a maioria. Já a vida urbana permite, em princípio, mais escolhas. Há mais profissões, mais carreiras, a lareira não é uma necessidade mas um capricho, a televisão não é a fatalidade de todas as noites a olhar para as mesmas novelas. Nem todos tirarão proveito das oportunidades, muitos nem sequer são capazes de sair de rotinas diárias bem mais aflitivas e solitárias do que a de um pastor com o seu gado. (...)
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