Lisboa, na Baixa
Este calor já cansa. As montras mostram agasalhos e lãs mas é o frio que não chega. Nas esplanadas, turistas encalorados consomem cervejas de tamanhos gigantes, adolescentes exibem a frescura com ousadia, mulheres janotas cobiçam a nova estação, homens solitários vão cobiçando umas e outras e executivos de óculos escuros não ligam a coisa nenhuma. Os idosos caminham lentamente de boné e jornal no braço, casais de reformados de braço dado gozam a estação nova a que têm direito, o pedinte canta para quem passa, os loucos gesticulam para eles mesmos, cruzam-se muitas línguas, passam os tristes, brilham os felizes, abraçam-se os amantes e correm os atrasados.
Do fundo da rua vem o cheiro a castanhas e o calor que faz não faz sentido. As crianças voltam a cabeça a tantas coisas novas, as mães apertam o passo que o barco não espera. Estudantes ruidosos fazem graças sem piada para colegas novas de início de escola. Todos se riem. A mulher a meu lado, cansada e com olheiras, pousa o saco no chão, sem vontade de rir. E o tempo que passa tão depressa. Estes pombos são uns chatos.
6 Comments:
Tem razão minha amiga!Calor com castanhas não combina.Ai, estas alterações climáticas.
Cumprimentos carissíma.
Lindo.
O texto sobre este verão no outono.
Lindo também este outono, assim.
É mesmo essa a Baixa que tão bem conheço, que tão bem descreve...gostei mesmo de ler.
Nos dias que correm conseguir observar tão bem a azáfama citadina a esse pormenor, é obra. Mais ainda quando tão bem passada para o papel (melhor dizendo, blog).
Por falar nisso, parabéns! O seu blog é fabuloso. Passei por acaso e continuarei de amiúde.
Obrigada a todo@s
:)
ISabel
De facto... frio e sol outonal já vinham mesmo a calhar...
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