PÁSCOA
A senhora tia alisa a toalha
põe sobre ela talheres muito antigos
herdados dos avós que a terra come
quantos anos passados deste dia
ainda estaremos como agora juntos
na cozinha de Sangalhos
entre o fumo da lenha seca
e o cheiro misturado
das carnes e das hortaliças
que acabam de ferver no fogo esperto
minha mãe diz um dito qualquer
seca a vista embaciada
eu venho do pátio
certamente cantando
o tio – as urinas presas
no laço da bexiga –
conta uma história
da guerra de 14
do vizinho morto
como ele Manuel sorte infeliz
ao tempo que isto foi
Lisboa-3/4 XI-94
Fernando Assis Pacheco, Respiração Assistida, posfácio de Manuel Gusmão, Assírio & Alvim, Lisboa, 2003
A senhora tia alisa a toalha
põe sobre ela talheres muito antigos
herdados dos avós que a terra come
quantos anos passados deste dia
ainda estaremos como agora juntos
na cozinha de Sangalhos
entre o fumo da lenha seca
e o cheiro misturado
das carnes e das hortaliças
que acabam de ferver no fogo esperto
minha mãe diz um dito qualquer
seca a vista embaciada
eu venho do pátio
certamente cantando
o tio – as urinas presas
no laço da bexiga –
conta uma história
da guerra de 14
do vizinho morto
como ele Manuel sorte infeliz
ao tempo que isto foi
Lisboa-3/4 XI-94
Fernando Assis Pacheco, Respiração Assistida, posfácio de Manuel Gusmão, Assírio & Alvim, Lisboa, 2003
2 Comments:
A arte de dizer tanto - em tão pouco tempo e diminuto espaço -, sobre os costumes, a reunião da família às vezes distante, as estórias repetidamente contadas nas Páscoas que se seguem umas às outras e cujas tradições se vão perdendo de vista.
Obrigado por ter trazido aqui esse poeta das coisas simples e terrenas.
A simplicidade eleva as sensações, cheiros e sabores.
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