[Fazer carrreira na política :nascimento, aprendizagem e vida )*
"Compram aos catorze a primeira gravata com as cores do partido que melhor os ilude. Aos quinze fazem por dar nas vistas no congresso da jota, seguem a caravana das bases, aclamam ou apupam pelo cenho das chefias, experimentam o bailinho das federações de estudantes. Sempre voluntariosos, a postos sempre, para as tarefas de limpeza após o combate. São os chamados anos de formação. Aí aprendem a compor o gesto, a interpretar humores, a mentir honestamente, aí aprendem a leveza das palavras, a escolher o vinho, o sim e o não mais oportunos. Aos vinte já conhecem pelo faro o carisma de uns, a menos valia de outros, enquanto prosseguem vagos estudos de Direito ou de Economia. Começam, depois disso, a fazer valer o cartão de sócio: estão à vista os primeiros cargos, há trabalho de sapa pela frente, é preciso minar, desminar, intrigar, reunir. Só os piores conseguem ultrapassar esta fase.
Há então quem vá pelos municípios, quem prefira os organismos públicos – tudo depende do golpe de vista ou dos patrocínios que se tem ou não. Aos trinta e dois é bem o momento de começar a integrar as listas, de preferência em lugar elegível, pondo sempre a baixeza acima de tudo. A partir do Parlamento, tudo pode acontecer, director de empresa municipal, coordenador de assessor de ministro, ministro, comissário ou director-executivo, embaixador na Provença, presidente da Caixa, da PT, da PQP e, mais à frente (jubileu e corolário de solvente carreira), o golden-share de uma cadeira ao pôr-do-sol. No final, para os mais obstinados, pode haver nome de rua (com ou sem estátua) e flores de panegírico, bombardas, fanfarras e formol. "
Joaquim Manuel Magalhães - "Algumas palavras", Expresso Actual 19 de Agosto
*Título de minha autoria
3 Comments:
Com pouquíssimas interrupções, andamos nisso há quase 200 anos... e sobrevivemos!
Isabel... leia , sff, o post no PdosP que remete para o seu. bjs. J.
Muito obrigada caro João Gonaçlves
:)
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