sábado, abril 8

Senhor Borges : "O Nobel que nunca foi."

Fanny recorda vários episódios com o escritor - como o dia em que foi arrancar três dentes para aproveitar a dor de não ser correspondido numa paixão - e os seus hábitos: contar à mãe o que tinha feito quando chegava a casa; estender a mão, ao deitar, para Fanny lhe dar dois caramelos; os passeios depois da sesta até à Biblioteca Nacional, da qual foi director entre 1955 e 1973; a astúcia com que, quando estava farto de alguém, em casa, o agarrava pelo braço e acompanhava até à porta, conversando. Recorda ainda o seu sentido de humor. "Tinha o hábito de guardar o dinheiro entre as páginas dos livros. Mas à medida que o dinheiro se ia gastando era preciso ir ao banco, e então dizia-me: "Fanny, temos de dar de comer ao camelo." Acontece que o livro maior e onde guardava mais dinheiro tinha na capa um camelo em relevo e ele não perdia a oportunidade de dizer uma piada." "O Senhor Borges"-Alejandro Vaccaro. Teorema
O único acto que poderá justificar o facto de a Academia Sueca lhe ter negado o Nobel foi ter aceite almoçar com Pinochet, em 1976, quando se deslocou ao Chile, segundo escreve o especialista Vaccaro. Borges era tido como um símbolo da resistência antiperonista, já se tinha declarado, após o aparecimento do nazismo e do fascismo, contra qualquer totalitarismo, e o encontro com o general chileno não caiu bem. Três anos mais tarde, a atribuição do Prémio Cervantes - o prémio mais importante do castelhano - havia de lhe servir como um honroso substituto, a que não faltou uma alfinetada: "Sinto que este prémio é a coroação da minha vida (...). Honra-me porque foi atribuído por gente literária, e não por políticos", disse no La Nácion. A.D.F. Público de hoje

1 Comments:

Blogger Filipe said...

"Ficções" é desde que o descobri (sensivelmente há 3 anos) um dos livros que não sai da minha mesinha de cabeceira ou saco de viagem, e que releio ciclicamente...

10:48 da manhã  

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