quarta-feira, março 8

Lisboa, 1798

Sobre o sexo feminino, o autor do Novíssimo Panorama de Lisboa, um francês, e o seu editor alemão, o Magister Tilesius de Leipzig, têm opiniões algo diversas – aquele elogia, este censura. Em termos gerais, o sexo feminino tem os mesmo defeitos do masculino: uma estatura demasiado baixa e uma tendência para uma figura forte e rude. Tem porém muita fisionomia, uma natureza viva e amável, olhos muito belos, cabelo invulgarmente comprido e forte, dentes muito brancos, um peito opulento e cheio e pés extraordinariamente bonitos, fazem no entanto, penso eu, uma atraente combinação e escondem outras irregularidades. Conhecedores elogiaram-se ainda confidencialmente muitas outras coisas que eu não posso repetir publicamente. Apesar de em Lisboa, como em qualquer outra grande cidade, não faltarem mulheres da rua, apesar de elas de facto dizerem um vez que a porta está aberta, que se pode entrar, a verdade é que não são de modo algum tão impertinentes e descaradas como as mulheres em Londres ou em Paris no Palais Royal. A descrição das mesmas no Novíssimo Panorama de Lisboa é verdadeira em alguns aspectos, no todo é exagerada. Mas volto de novo às senhoras de condição. Aquela suave graça que adorna a beleza nórdica quase não se encontra em Portugal e ficar-lhe-iam porventura tão mal os olhos ardentes como a atmosfera ardente que ela mal consegue criar. Mas também se vêem belezas sublimes em Lisboa, quando o fino porte nórdico, o branco nórdico da sua pele, se juntam às vantagens de um clima meridional, produzindo o que de mais belo a natureza pode mostrar. (…) Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha (1798) - Heinrich Friedrich Link. Lisboa: Biblioteca Nacional, 2005. Pag. 128-129
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