segunda-feira, novembro 27

(Minha) entrevista no Miniscente

O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje sou eu : - O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”? A blogoesfera ocupa o lugar do café dos finais do sec. 19. Frequentado por tipos diferentes, do pouco letrado ao erudito, do sério ao humorado, do especialista ao generalista, do militante ao diletante, do anónimo ao identificado, uns sentam-se sozinhos, outros partilham a mesma mesa e alguns dão dois dedos de conversa aqui e acolá: são os links do século passado. Apesar do aspecto descontraído, todos querem ver e alguns querem ser vistos. Muitos olham com distanciamento para os outros, em postura blasé, mas levantam o tom de voz para se fazerem ouvir nas mesas vizinhas. De novo, os links. Além da multidão de desconhecidos, há as mesas vip onde só se senta com convite, com direito a sitemeter acelerado. Uns vestem trajes discretos mas de bom corte, outros optam por um estilo mais arrojado: mostra-me o teu template, dir-te-ei quem és. Lá no fundo do café, se virem uma mesa discreta em tons de açafrão e vozes animadas, posso ser eu.
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues ? Creio que segui a ocupação do Iraque praticamente através dos primeiros blogs e principalmente através da Coluna Infame, mas nunca deixei de ler jornais. Há blogs que acompanhei com maior frequência durante as eleições legislativas e presidenciais ou no caso dos cartoons dinamarqueses, no entanto, há alguns temas de carácter local e regional que me interessam e que não são discutidos na blogoesfera.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal? Desconfio que um blog corresponde ao ponto de cruz da minha mãe. São hobbies que mantemos e que muitas vezes nos desviam a atenção do que nos incomoda, do que nos preocupa e que nos distrai. Claro que depende do “registo” que escolhemos, ou melhor dizendo, do “tom dos blogs”, como lhe chamaste. Assim como o ponto cruz, o tom dos blogs pode ir do tom pastel ao vermelho vivo, de um registo calmo ao quezilento, do ingénuo ao matreiro, do simplório ao eloquente, em matizes várias e texturas distintas. Não há semana que não tenha vontade de liquidar o meu blog, mas assim como no ponto cruz, não há semana que não se pegue na agulha e na linha. A verdade é que conheci pessoas que dificilmente viria a conhecer se não fosse a blogoesfera. Fiz amigos, conhecidos, recebo palavras simpática e alguns enxovalhos. A blogoesfera pode ser, por vezes, um local agressivo, mas já se sabe, quem anda à chuva, molha-se.
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre? A blogoesfera é um espaço de liberdade, que cobre um conjunto de temas que a vida política e artística não consegue representar. É um universo muito rico e que tem permitido a entrada de muita gente interessante e que não tinha acesso aos media convencionais. É uma novidade que sai fora do quadro habitual dos cartões VIP. Na blogoesfera, dez valores, são dez valores. Um blog pode aguentar-se artificialmente por uns tempos, mas, se não tiver qualidade ou alguma singularidade, não resiste por muito tempo. Quanto a isso de ser livre ou não, cada um fale por si.
NOTA :Colaboradora do Corta-Fitas
[Actualiz: Ao Eduardo Pitta, António Rosa, Carlos M Castro, João Miguel e Ana Cláudia , ao João Villalobos, e a todos que deixaram aqui palavras tão simpáticas, muito, muito obrigada.]

17 Comments:

Anonymous Anónimo said...

das melhores entrevistas feitas no Miniscente.

4:42 da tarde  
Blogger JCA said...

Cara Isabel

Excelente entrevista,parabens.
:)Cumprimentos

5:02 da tarde  
Blogger Maria de Fátima Filipe said...

Parabens. Respostas muito directas e sem "rodriguinhos", do tipo quem não deve não teme. Muito ao meu gosto, se me permite.

5:17 da tarde  
Blogger Vida Involuntária said...

O que significa "aguentar-se"?
Como em tudo, há coisas e casos atípicos.

Quem não abre caixa de comentários, por exemplo, pode ter outros "crochets" e outras "mesas de café" e outras "alfaiatarias" e não estar para aturar comentarices bacocas, que são a grande percentagem. Muito possívelmente por receita médica.

E qual será a categoria?
www.prazersolitario.blogspot.com?
Hummmm...., há mais coisas entre o céu ea terra do que sonha a vã "blogosofia".

Saudações.

8:22 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

"Um blog pode aguentar-se artificialmente por uns tempos"

Signfica, para mim, receber um inusitado número de links logo que o blog é criado e depois acabar por desaparecer porque pura e simplesmente não tem qualidade, ou em nada é diferente dos outros.
Não há forma de ir contra o "mercado".
É só isso.
Prazer Solitário:
"há mais coisas entre o céu ea terra do que sonha a vã "blogosofia"."

Há sim. Há a vida. A vida de todos os dias, as nossas circunstâncias. A vida como é ela.Sem teorias nem pintada a cores.

8:34 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Miss Pearls

A "melhor" entrevista das duas séries no Miniscente.

"Não há semana que não tenha vontade de liquidar o meu blog."

Também eu.

Abraço.

9:57 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Miss Pearls

Sou eu outra vez, porque só agora li este seu comment:

-Não há forma de ir contra o "mercado".

Então não há? O seu blogue é o exemplo perfeito de que se pode ir contra o mercado:

Porque entendo como mercado maioritário, aqueles numerosos blogues que tratam (exclusivamente) de política, cidadania, futebol, actualidades.

Criou um estilo próprio. Construiu um "mercado", contrariando a corrente maioritária.

Eu não prescindo do seu blogue.

10:08 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Obrigada António
Por acaso tinha enviado à minha amiga Ana Cláudia e ao Eduardo para me darem uma opinião e eles também gostaram.
Fico bem contente:)

12:20 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

a mais interessante das entrevistas. obrigado

10:37 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Boa Dia Misss ¨Pearls. Tinha lido a entrevista no blogue onde foi publicada, graças ao link de João Villalobos.
Queria so dizer-lhe que estou de acordo com os que consideram qua foi uma das entrevista mais interessante do blogue.

Ah... e quanto à prometida foto, infelizmente não tenho maquina digital. Mas, curiosamente, uma amiga do estagio acabou de ganhar uma numa promoção de um supermercado (!!). Excelente coincidência, mas quero que ela passe a fase "lua de mel com a minha maquina nova" para poder fazer fotos por Paris inteira.

11:53 da manhã  
Blogger Luís Aguiar-Conraria said...

Toda a entrevista, mas em especial a resposta a' primeira pergunta, e' excelente.
Parabens e obrigado.

12:58 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

Luis, JPT e Hexagono:
Muito obrigada a todos.
São muito simpáticos em deixar aqui o vosso comentário.
Abraço
Isabel

5:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Dear Miss Pearls,

Sem dúvida a mais bela descrição deste mundo. Que já li.

Obrigado, também eu.

F

6:18 da tarde  
Blogger João Villalobos said...

Também gostei muito.Só não digo que foi a melhor porque não li mais nenhuma (minto, li a do Eduardo).
E a "minha", achou muito terrorista? ;)
Bjs

8:16 da tarde  
Blogger M Isabel G said...

João
"Terrorista" nem tanto. Mais na base do "Agit-prop". Como não consegue recordar-se de tantas vozes sobre Darfur?
Estou solidária com esse seu pequeno problema de infância. Parece-me é que já é um pouco tarde para os corrigirmos. Eu e o João :)

F,
Muito obrigada

8:37 da tarde  
Blogger damularussa said...

Não sei se foi a melhor (não li outras), mas que é excelente , não tenho a menor duvida sobre isso.

Quando ao liquidar o blog, acho que todos passamos por isso, enquanto não, vamo-nos lendo.

Se me permite
Um abraço

10:38 da manhã  
Blogger Vida Involuntária said...

`Cara Miss Diamonds,

Só hoje me lembrei do comment que aqui tinha posto.
A coisa, já perdeu actualidade, mas, de qualquer forma, agradeço a sua resposta. Só que não me respondeu, verdadeiramente.
Claro que não li as outras entrevistas, nem me interessam. E só me fez espécie o guilhotinesco "não se aguentam" e a transversalidade geracional dos lavores femininos, que me fez ver, com bom humor, todos os cavalheiros da blogosfera a tricotar para o Inverno ou a fazer carapins para a "gravidez" em curso.
Bem, lá dizia o Barthes, que "texto, quer dizer tecido".

Realmemte há linguagens e intuitos muito diferentes. E neste sítio, AQUI - sem sublinhados amigalhaços - é um, onde se pode mandar "o mercado" para um certo sítio excrementício.Para isso é preciso não estar muito dependente de opiniões das tais "mesinhas", ou "mézinhas"?

Saudações renovadas.

2:41 da manhã  

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